O Refletido no espelho

Dei nome ao desabafo porque não saberia sair disso sem justificativa. Gasto meu latim com trivialidades para ir amansando a necessidade do partir, quebrar ruas a passos largos ou não, deixar a carga de lado ou levá-la, a dor do segundo respirado sem o apagar da luz no palco leva tomar a dianteira da violência marota que vira arte, na fala, no gesto, nas escolhas do espírito rebelde que obrigam o ficar. Enfurecer somente na condição do ser da ira no mundo alienado sem espaço para o passo, vida de artista que sai da tela da televisão é encarnada na vítima do tempo moldado.

A domesticação do corpo imposto pelo relógio e seus senhores não foi suficiente para deixar no esquecimento a ânsia profunda do ser livre, amor que não se mede, direito para não viger no aqui-agora que renasce e agora sai como fumaça da chaleira da alma.

Pena equivalente a do Juiz exarada num tribunal decretando prisão perpétua ao acusado é aquela implícita determinada no nascimento do homem, que sai da barriga de uma mulher para viver no mundo das sombras de Platão, sendo sorte –pena de alguns chegar ao despertar enxergando o movimentar dos personagens nos ensaios, isso depois das bofetadas na face levando-os a queda necessária a entrega para o jogo.

Doravante sem armas. Para quê? Segue a centelha divina como chegou, como verbo veio, assim irá. Ao final a morte será consolo, cura para a doença que foi a existência.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 06/10/2016
Código do texto: T5783280
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.