[Quando chegam as lágrimas]
— Que seja, que seja — vou falhar comigo mesmo, mas o que tenho a dizer, direi na terceira pessoa do verbo:
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Quando chega um certo tempo — e vai chegar a menos que a morte chegue antes — e se houver calma, se houve uma mansa lonjura no olhar, o que se sente nesse tempo é algo assim, como um suave e amargo desfazer da trilha que nosso barco deixou na superfície calma de um rio muito extenso...
Então — a catarse se impõe —, não se pode e não se deve tentar conter as lágrimas... Chora-se por muitas coisas, muitas mágoas... mas não há choro mais dolorido que aquele que molha o recordar de um amor que se perdeu naquela trilha esvaecente.
Afinal, é [foi] o único amor, pois só há um amor a perfumar cada existência — há quem pense que pode amar mais de uma vez, mas isto é da particular experiência de cada um; não cabem argumentos...
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[Desterro, 02 de outubro de 2010]