Loucura IV

Como defesa em causa própria. Loucura que criou alma se posta diante da razão pedindo palavra para expor sua tese defensiva no afã de se esclarecer, desenhar os serviços prestados para seu arqui-inimigo.

Sempre acompanhado da vanguarda parente(auto estima), eminência parda em caminho hostil. Loucura inicia o diálogo num artístico representar de cortesias e gentilezas, reveste na formalidade reverencial que a razão pede. Curva-se em sinal do falso cumprimento a razão, logo atrás permanece a “parenta” imparcial à cena que se desenvolveria em outras. Foi somente para lembrar a companheira que pode contar com ela para o trilhar da rota de fuga, afinal as duas tem morada, aceitação onde vivem. Seja qual lado o Tribunal Kantiano da razão levar a conversa, recolher-se-iam, iriam rumo ao mundo de origem onde a insignificância é rainha.

A razão, como sempre adepta a prática da objetividade, maquiada e anestesiada pela lucidez clonada, investe no juízo inquisidor e do alto de sua majestade vai logo indagando num tom irônico:

____Olá, velha conhecida! Não é comum você por aqui. O que queres? É a mala cheia dos resultados das empreitadas insanas que faz diariamente? Não acha que trás trabalho demais para mim. Tenho que fazer o serviço sujo, como urubu que come a carniça e sai em altos vôos respirar ar puro para digestão. O que apresenta que não a baderna de sempre? Você e sua devassidão...Não tem remédio!!!!Se for arrependimentos, pedido de perdão, perjúrio, isso tenho aos montes aqui. Tudo em fase de apuração. O que é? Diga!!

Loucura mudou de expressão, começou dançar como em salões em noites de gala. Investiu numa suavidade corporal e de face que não condizia com todo aquele embrutecimento pedido, depois de alguns passos em círculo foi interrompido pelo Juiz:

___Pare com isto!! chega! Seja breve!

Loucura retrucou, dizendo:

___Sua impaciência, seu zelo em excesso foi na eternidade a causa da nossa inimizade, caso desista desta parcialidade de entendimento estarei no lado de lá lhe aguardando para uma conversa. Enquanto isto fica aí...pousando de senhor servindo à escravidão julgando meus devaneios. Ao fundo ouviu a parceira falar, docilmente:

___Loucura, vamos embora. É hora.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 01/10/2016
Código do texto: T5778353
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