NEM TUDO ESTÁ PERDIDO...
Deixe-me contar um segredo
Todo conto tem diferente seu enredo
Conheci um que tinha algo bizarro
Entre flores e espinhos, eis q' narro
Num poema mal rimado, seu fado
Atos cometidos enquanto grão calado
Amordaçado pelas raízes da intolerância
Possuía no íntimo peculiar fragrância
Espinhos mortais e odores insanos
De pontiagudas palavras desenganos
Foram descortinando todo o seu céu
E aos poucos tirou-lhes das flores, o véu...
Quando deu por si, sobraram-lhes os espinhos
As flores foram sem piedade ceifadas...
Seu dono não foi cuidadoso como as fadas
O campo ficou triste sem flores, só espinhos...
Galhos secos eram a paisagem da colina
Os pássaros foram embora procurar outro céu
As borboletas desoladas se perderam na neblina
O sol foi-se embora paisagem funesta, escarcéu...
Tudo ficou cinza de repente...
Sua semente foi dilacerada pelo acontecido
Por anos ficou o campo só sem flor sem sentido
Flores, Beija-flores, cores... nada mais presente
Tudo foi ceifado e com o vento foi levado
O campo com as estações, foi então, renovado
Foi na última primavera q' vi despertar do chão
Uma plantinha, uma única rosinha em botão
A noitinha, vi os aplausos da natureza jorrar
Feito chuva abençoando naqueles campos
Como um momento mágico vi o céu a brilhar
Era o milagre da vida sob a luz de pirilampos
(Simone Medeiros)