Num dia qualquer...
Quatro paredes à minha volta e não sei qual é a hora que crava agora o ponto, um ponto invisível que liga o tempo, este que na verdade não liga prá hora. O que cabe nele não se conta, porque meu pensamento é veloz e não tem ordem cronológica. Não tem ordem nem lógica. As palavras me atropelam e alternam as imagens, sobem e descem os panos, trocam as legendas, são flashes, vinhetas, são curtas, são longas, são piruetas de sombras. Todas as minhas sombras frondosas filtrando o sol, meus vinte anos, o meu girassol entre quatro paredes, todos os medos de abrir as janelas, todas as telas deixadas em branco, em todos os cantos uma aquarela, na água o cheiro da cor amarela, papel de seda, crayon, giz de cera, carvão...
Procuro nas dobras dos panos pedaços de sonhos que estão por vir, que estão por cair sobre minha cabeça, sobre meu corpo que procura um mormaço, um ponto no espaço que sirva de guia, nessa anarquia de jogar as palavras vou jogando a rede, atirando pedras no caminho vou pulando amarelinhas pro céu alcançar, vou puxando a linha, dando corda nesse relógio que crava em mim mais um ponto com a agulha do tempo a me espetar.