Desde que valha a pena

Temos medo. Alguns diriam que é medo dos riscos, das consequências. Medo daquilo que não podemos controlar. Mas eu diria que, muito mais do que isso, nosso grande medo é de que nossas ações não valham a pena; que nossos sacrifícios sejam despropositados; que os resultados negativos pesem mais do que os positivos.

Porque riscos estão em qualquer lugar. A todo momento estamos sujeitos a inúmeras situações com consequências indesejáveis. E, então, temos que fazer a escolha entre fugir - por medo, receio - ou encarar - aceitando as inseguranças e incertezas.

Muitos optam pela fuga. Alegam que assim se previnem de uma infinidade de desastres. Mantêm-se sempre nos locais mais seguros, nas situações mais previsíveis e estáveis. Assim, privam-se, também, de uma série de experiências positivas, que jamais chegarão a experimentar se nunca se permitirem arriscar.

Já outros tendem mais a mergulhar nos riscos para não perder as oportunidades. Enxergam os resultados positivos, as emoções da experiência, e não se deixam abalar pela possibilidade de terem que lidar com situações desagradáveis. Consequentemente, ficam muito mais expostos a perigos, perdas, mudanças inesperadas.

Mas quem será que sofre mais por arrependimento? Quem tem a mente mais inquietada por pensamentos que analisam e reanalisam infinitas vezes suas decisões do passado? Será que é mais comum remoer-se por algo que se fez ou algo que se deixou de fazer?

Há quem diga que aos que deixaram de fazer algo sempre restará a possibilidade de ainda realizar tal ação. Mas, será? Será que não são inúmeras as vezes que passamos por momentos únicos em que se não aproveitarmos aquela oportunidade jamais poderemos tentar? Talvez seja por essa mesma ideia que muitos entregam-se aos riscos sem pesar muito as consequências. E será que essa impulsividade toda vale a pena, então?

Possivelmente, em ambos os casos sempre restarão os questionamentos sobre como as coisas seriam caso as escolhas tivessem sido diferentes. Mas, como não podemos mudar os fatos, somos obrigados a encarar essa nova realidade que, de alguma forma, escolhemos - ou pelo menos direcionamos o caminho.

Quando optamos por ficar no lado seguro, posteriormente acabaremos nos questionando se os perigos teriam sido mesmo reais. Se, caso houvéssemos tentado, não teríamos sido capazes de escapar deles. Haverá um desejo de ter ousado um pouco mais. E dificilmente a segurança resultante será suficiente. Mas não importa o quanto pensemos sobre o que passou. Aquela decisão já foi feita e não se pode mais voltar atrás.

Já quando ousamos tentar e acabamos entrando para o lado negativo das estatísticas, logo procuramos encontrar o que deu errado. Qual foi o nosso erro fatal; em quê momento específico cometemos o deslize que nos levou a ter de enfrentar aquelas antes tão distantes consequências? Aquelas que eram mero risco a se correr - mas que tivemos coragem o suficiente para enfrentar - e que agora, num instante, se tornaram tão próximas e reais. Somos culpados ou alvo azarado do destino? Terá sido tudo uma combinação inoportuna de fatos que não cabia a nós controlar, ou uma consequência direta de nossas ações e decisões? Não importa. Já não podemos mudar.

Mas em ambos os casos, por maiores que sejam os motivos de arrependimento, terá valido a pena nossa motivação principal? Será que mesmo que nos arrependamos de uma oportunidade perdida, não valeu a pena a certeza da segurança que não deixou de faltar? Ou o impulso reprimido que, mesmo doendo internamente, no fundo sabíamos que não era algo que realmente queríamos fazer?

E nos casos de risco, aqueles que aceitamos encarar, é possível que muitas vezes escapemos ilesos; mas basta uma vez para nos pôr a pensar. Ainda que aconteça, será que não terá valido a pena? Será que não foi melhor viver do que sufocar seu espírito de aventura? Ou não foi a lição aprendida mais importante que o preço a pagar? Saber que você pelo menos tentou, mesmo que tenha vindo a falhar.

E é por isso que digo que, muito mais do que medo dos riscos e consequências - do que quer que aconteça ou deixe de acontecer -, temos medo de que não tenha valido a pena. Porque, no fundo - e com o passar do tempo -, acabaremos reconfortados por ter abrido mão de algo se soubermos que valeu a pena. Se encontrarmos a certeza - ou pelo menos nos convencermos - de que aquela foi a melhor escolha.

Assim também é para com as situações em que arriscamos. Às vezes até mesmo graves consequências acabam sendo aceitas, quando nosso coração e o cérebro fazem as pazes e concluem juntos que, sim, valeu a pena; que tudo que dependia de nós mesmos foi feito do jeito que deveria ter sido. E o resto, esse não dependia de nós. Aliás, tanto quando corremos os riscos como quando hesitamos, no final das contas é tão pouco o que realmente depende de nós.

Dancker
Enviado por Dancker em 27/09/2016
Reeditado em 27/09/2016
Código do texto: T5773613
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