Tua Amnésia

Aquele olhar que me tirou de órbita, e o beijo que me afogou. Você chegou na hora errada, e me fez desmoronar. Confesso que eu olhava o teu amigo, e teria sido melhor se fosse com ele; mas a dúvida de não ser por ele correspondido me feriu e eu me atirei nos teus braços. O ferimento então foi maior, e está em carne viva. Um efeito borboleta se iniciou, suas asas você bateu para fazer um tornado e destruir o meu mundo... A tua amnésia alcoólica me sufoca, me rebela, me enfurece, mas eu emudeço, já que você entende de sinais. Você beijou minha mão, e disse “Não se esqueça de mim”, me jogaste uma praga, um feitiço, macumba, que agora eu não consigo realmente te esquecer. Fez cenas de ciúmes e insatisfação quando te quis como amigo, e agora nem isso és. Isso porque você beijou outros na minha frente sem se importar com minhas esperanças, tentei te afastar, mas você insistiu só para depois sumir de vez. É o que fazem os covardes.

Li teu corpo em tuas tatuagens, te beijei a nuca e te perdoei; afinal a gente nem se conhecia, e você ébrio não era dono de si, mas já era dono de mim. Eu não pedi teu celular, mas você me ofereceu, eu não pedi tuas declarações, mas você as fez, eu não pedi o teu desprezo... e era tudo só uma brincadeira tua que eu errei em levar a sério. Tua intensidade era apenas drama, cena. Tua poesia, disfarce. Você, mentira. Não ligue se me desiludi, eu já devia ter aprendido, mas não aprendo, não aprendo. Não é culpa tua não, não. Foi tudo ficção que meu coração louco inventou por ver em você alguém tão de acordo com meus sonhos. Piedade, eu peço a Deus, por ser tão careta a ponto de acreditar em pessoas, de ter confiado em tuas terceiras intenções.

Virei, então madrugadas para te agradar, e te fazer companhia. Tive medo de ir sozinho de ver, e você me deixar de lado; e a minha intuição estava certa. Mas você fez questão de me ver, só para sair vitorioso, só para ter alguém a seus pés; e eu fui e te dei essa vitória. Sorria! É muita vaidade para pouca autenticidade. E de repente passa a me ignorar, a fingir que eu não existo, tornei-me mais alguém na tua estante. Talvez porque diferente de ti, eu me desfaço de armaduras, mas não desisto. Sobretudo não me santifique para depois me crucificar, não é minha culpa se tenho cara de trouxa. Até seja talvez, porém me orgulho de ser assim, como você deve se orgulhar de ser covarde. Cafajeste não, imagina... até porque você não segurou minha mão para beijar outros, até porque quando eu insinuei beijar outros também você não me puxou com tua descarada ironia. E além disso na maior precisão de linguagem disse que não confiava em mim. Ah, hipocrisia!

Tudo isso porque eu me apaixonei pelo que vi de mim em você; e você odiou tudo que viu de você em mim. A gente bateu de frente, uma colisão, um acidente, onde só eu saí ferido. Pois, agora, sou eu o ignorado após tantas declarações, após desperdiçar tantos versos compondo para ti. E eu ria desse papo de que o problema está em você, pois não dou muito tempo para alguém se perder no teu abraço e vocês jurarem felicidades eternas para o mundo. Duvida? Eu sei que o problema sou eu, quando a gente quer, a gente não pensa, porque amor não se negocia. Devo mesmo ter te assustado, você viu o melhor e o pior de nós, mas preferiu enxergar a jarra meio vazia. Chovia e fazia sol, mas você se protegia da chuva e nem via o arco-íris. Mas eu prefiro acreditar que esse desprezo, esse desfecho é pura sorte minha, tenho muito sorte no amor: afinal azarado é quem cai nas tuas garras. E se o amor perdura ou vira ódio ainda não sei. Porque apesar de te odiar, eu ainda te amo. Mas a vida é justa, e eu achei alguém que fechou o guarda-chuva, e agora a gente dança sob a chuva, e molha em mim o que você secou, reconstrói em mim o que você destruiu, e eu não choro mais, é só a chuva no meu rosto...