A vida cobra nossas escolhas

E passaram-se quase 20 anos até se dar conta de que perdeu para sempre o único e verdadeiro amor de sua vida.

A moça que chegava de madrugada de sandálias na mão ficou no passado, machucou tanto seu anjo que ele decidiu se calar, decidiu não mais proteger e cuidar, decidiu deixar de amar, mas ele a avisou, ele falou e deixou registrado em sua despedida.

E assim como ele havia dito, chegou o dia que ela notou a ausência, sentiu um vazio imenso e sentiu falta da voz, do cheiro do gosto dos beijos, das noites regadas a café, das ligações as cinco e meia da manhã...

Procurou em diversos lugares e só encontrou sombras, tentou se embebedar de tequila, e o via a cada gole, colocava as músicas que costumavam ouvir e chorava pensando nele, imaginou seus braços e seus beijos, que já não são mais dela, jamais serão dela de novo.

Os olhos vertendo água salgada, a fumaça acabando com sua vida aos poucos, quem sabe a dor passe a confortá-la, sempre sua companheira.

Ela recusou, ela o deixou ir, ela é a única culpada pela despedida. Mas não pode mais se ausentar, fez uma promessa, agora está fadada a sentir toda a dor que ele sentiu durante tantos anos, terá de assistir de camarote a felicidade de outra pessoa nos braços dele, terá de conviver com a companhia solitária da dor, como ele conviveu.

Está magoada, mas já o magoou tanto, já o fez sofrer tanto, quase o matou tantas e tantas vezes que se conforma com seu destino. Os papéis se inverteram mesmo, o jogo virou.

Ela chora, chora muito como ele disse que seria, como ninguém jamais chorou, com uma dor tamanha que a faz perder o fôlego em soluços e pranto, mas ele jamais a ouvirá novamente, ele não mais atenderá ao seu chamado, e ela se verá sozinha, sem o amor de sua vida, sem seu anjo, sem paz, sem chão, sem nada. Apenas as lembranças do que poderia ter sido e não foi, apenas o sonho de uma sala pintada de amarelo e uma praia com lichias só pros dois, apenas o desejo de ser a mulher mais feliz do mundo...

As lágrimas nunca serão de felicidade, o tempo de chorar não vai cessar e ela vai apenas sobreviver sem ele.

Isabel Cristina Oller
Enviado por Isabel Cristina Oller em 19/09/2016
Reeditado em 28/09/2016
Código do texto: T5765307
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