UMA BELA ESTAÇÃO

Chega o mês de setembro. O céu espargido de tons azulados, ainda guarda um pouco do cinza dos meses de inverno no trópico sul.

Ondas de frio, fora de época, ainda se batem intermitentes e desorientadas, gripando as pessoas e entristecendo as plantas. Apesar dessas resistências do frio, aos poucos, o mês avança se esquentando devagar e as árvores passam a ostentar, então, um visual mais colorido e alegre.

Neste período, a primavera dá seus primeiros passos ainda tímidos, um pouco antes de sua estreia triunfal. Seus sinais, porém, são visíveis nas cerejeiras, nos ipês, nas Magnólias e Flamboyants assim como na antecipada floração das mangueiras e outras espécies frutíferas do sudeste brasileiro.

A primavera na verdade, bate à porta, antecipadamente. Ela vem mansa, oferecida. Vem do reino das flores. Ela vem, mesmo que não estejamos preparados para recebe-la. Ela traz um sol mais caloroso, o esvoaçar aleatório das borboletas e as noites mais breves. Sussurra no ouvido dos pássaros, para que cantem suas árias, de modo que as tardes fiquem menos entristecidas. Ainda que breve, sua presença, entre nós, faz com que, até mesmo, o fardo da vida, se torne mais leve.

De fato, há uma estranha conjunção dos sinais e dos astros no ar. Os horizontes ficam menos sóbrios. Pela presença de comboios de sonhos que se agrupam no seu entorno. Nas matas, onde o ambiente é mais natural, flores do mato explodem em cheiros adocicados, fazendo voar enlouquecidas, as abelhas itinerantes.

Vez por outra, ventos assustadores sopram como que demonizados, neste período. Eles ateiam os feromônios dos insetos no ar. Fazendo com que a natureza se extasie, nua, numa espécie de orgia convulsiva, despertando em todos os seres vivos, um louco desejo de amar.

As pessoas sentem esta mudança. Não tenho dúvidas. Os mais sensíveis se unem às criaturas da mata e às plantas, todos submissos ao canto da estação maior. Para recepciona-la, abrem generosamente, os jardins dos seus corações, para que estes se florem, se alegrem e se elevem. Nas suas almas, como na dos pássaros, pulsa a luxúria dos desejos que vem em ondas de orgasmos delirantes. Nesta altura, já há uma festa nos céus, para celebrar na terra, a sua festa de cores e perpetuação da vida.

Nesta estação, que é sempre coroada de flores. Tudo demuda, faz de cada um, verdadeiros camaleões, onde ela perpetra, silenciosamente, a matiz de suas cores.

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 18/09/2016
Código do texto: T5764542
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.