Vejo sua cegueira, de olhos vendados
Maldita crendice que exalta os presentes anonimatos
Faz de nós meros servos, faz de nós pobres coitados
Deus é a nossa boca, Diabo a nossa língua
Gritamos e novos deuses nascem
Sussurramos para que demônios se espalhem
Caímos na nossa própria lábia,
achando esta uma idéia sábia
Protestamos o pensamento alheio,
evitando assim um possível arreio
Cego para o que nos parece contraditório
Papel de otário fazemos diante este auditório
Na pura cegueira existencial,
buscamos uma divindade referencial
O diabo é o mal do mundo
fruto de seu caráter imundo
Deus é a sua salvação,
alimentado por sua covarde reação
Condenam o álcool por não saberem beber
Engrandecem o azeite e mal sabem porque
Pregam os limites, extrapolam o bom senso
Tentam alimentar os pobres com palavras poéticas,
dizendo-lhes que sejam sempre bons fiéis.
Engordam o orgulho dos ricos com submissão patética,
entregando-lhes regularmente esverdeados papéis.
Como pode um cego julgar a cegueira alheia,
cutucando as feridas do mendigo leproso?
Como pode um homem dizer o que lhe der na telha,
abençoando-o, pondo a mão em seu rosto?
Bendito é o homem que ama e segue a Cristo.
Maldito aquele que em sua imagem procura um pequeno cisco.
Os falsos profetas sempre estiveram aqui entre nós.
Tantos nomes recebem,
várias desculpas usadas,
tantas formas materializadas.
Eu os chamo de medos internos, evitando embaraços e nós
Dando vida a infernos grotescos,
um paraíso magnânimo,
e enormes estátuas do desânimo.
Não sou um religioso ou ateu, apenas tomo como base aquele que sempre diz “filho meu”.