Cinza II ou Da impossibilidade (temporária) de ser
Esta inépcia é minha? Este cinza que me bloqueia a visão interna? Não me sinto. Não posso ser! E o que me impede de ser é este cinza em meu coração. Por que a angústia é assim? É angústia? Todo fenômeno é origem. Toda imagem é arcaica e está carregada de história e toda imagem é sempre penúltima. Não posso esperar, eu exigo! Ex+agere, verbo pastoral, tocar adiante de si, empurrar diante de si. Eu exijo! E minha exigência, como todas, só pode ser atendida por aqueles a quem se dirige! Mesmo que ninguém se recorde de mim, mesmo que ninguém se lembre, devo permanecer inesquecível, ainda que todos se esqueçam. Afinal o esquecimento e a ruína são sempre maiores que a memória. O indizível é maior que dizível. O ensino é transmitido em silêncio, não pelo silêncio. Estou fazendo um esforço de poesia, vês? Estou postulando o fenômeno poeticamente, construindo esta mitologia crítica. Mas é tudo impossibilidade, a obra inexiste (por existir), toda possibilidade é fruto da pura contingência; eu quero a inoperância, o im-positivo (mas não o negativo). Desativemos a autonomia. Insiramos a paixão para interromper a potência. Empreendamos a marcha. Unaquaeque res, quantum in se est, in suo esse perseverare conatur. Esforcemo-nos! Esforcemo-nos.