Capítulo avulso

Entendi, pois, bem, num insípido intervalo, que não há nada mais profundamente comum em ser-se. E talvez nada mais profundamente desafiador. Então aceitei – tenho o gênio forte dos que se atrevem. Me lambuzo nas dores, navego no salgado mar de violências que habita em mim. Há caos, muito – como negar? –, mas há serenidade, há paz. Me abraço, sim. Cheia de compaixão. Chega de me debater contra minhas próprias asas. Eu já sei voar, sim. Há muito ódio e há muito amor, mas só eu sei o que dou e recebo do mundo. Não me diga mais o que é a vida: estou vivendo. Não me peça mais palavras ou silêncios: fique com esse olhar. Esse meu olhar cansado e teimoso de quem ainda vai dar muitos passos sobre a mesma areia que puxa meus pés agora.

Taíse Dourado
Enviado por Taíse Dourado em 06/09/2016
Código do texto: T5752016
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