DAS COISAS QUE SE FORAM
DAS COISAS QUE SE FORAM
Vida abundante claro vazio sentido
porque ele talvez fosse tudo q'eu tinha
e a voz da mágoa trouxe pertences
crescendo de outros tempos
causando ao invés de matar o amor
nascido o espírito invadido
ainda continua querendo como crise
buscando nas coisas qualquer
coisa que indique um estado
que deveria ter ficado daquela maneira
"a fome pede o que sacia além do desejo
de sorver algo estranho como grávida"
eu gravemente me esculpi no alto
de um precipício para cair aos pedaços
assim morrer feito pedras
no caminho da descoberta
por alguém curioso do símbolo
feito corpo jogado no deserto
um código de amor que valia muito
onde a crença não criava embaraços
ele tinha uma cruz no peito
que as vezes me afastava
eu acreditava na vida como força
não na forca dos menores perdidos
que sentiam um gosto de céu limpo
quando usavam aquilo
de brilhos com pedras de quartzo
até mesmo enfeitadas como gargantilha
não via meu corpo querer usar
p'ra de certo abrir minh alma aos outros
sempre fui reservada menos na cama
era uma dama de dia ao prazer da conversa
não que fosse maníaca
mas era hipocondríaca por um corpo
sobre o outro ao deleite das malícias
que ele dizia fazendo me ouvir
como vento respirado entrando
frio no calor que eu sentia
e agora procuro o que juro ter esquecido
por toda casa por toda saga
que fazíamos surgir nesta história
maldita memória convencida
ela se usa de roupas finas e fica
na porta me olhando
quando vai sair p'ra procurar
outro affair pra possuir este espírito
cansado...
...é que a vida abundante me engana
me ilude como pude estar perplexa
olhando figuras de sonho
das coisas que se foram?
MÚSICA DE LEITURA: Billie Holiday - Stormy weather