DAS COISAS QUE SE FORAM

DAS COISAS QUE SE FORAM

Vida abundante claro vazio sentido

porque ele talvez fosse tudo q'eu tinha

e a voz da mágoa trouxe pertences

crescendo de outros tempos

causando ao invés de matar o amor

nascido o espírito invadido

ainda continua querendo como crise

buscando nas coisas qualquer

coisa que indique um estado

que deveria ter ficado daquela maneira

"a fome pede o que sacia além do desejo

de sorver algo estranho como grávida"

eu gravemente me esculpi no alto

de um precipício para cair aos pedaços

assim morrer feito pedras

no caminho da descoberta

por alguém curioso do símbolo

feito corpo jogado no deserto

um código de amor que valia muito

onde a crença não criava embaraços

ele tinha uma cruz no peito

que as vezes me afastava

eu acreditava na vida como força

não na forca dos menores perdidos

que sentiam um gosto de céu limpo

quando usavam aquilo

de brilhos com pedras de quartzo

até mesmo enfeitadas como gargantilha

não via meu corpo querer usar

p'ra de certo abrir minh alma aos outros

sempre fui reservada menos na cama

era uma dama de dia ao prazer da conversa

não que fosse maníaca

mas era hipocondríaca por um corpo

sobre o outro ao deleite das malícias

que ele dizia fazendo me ouvir

como vento respirado entrando

frio no calor que eu sentia

e agora procuro o que juro ter esquecido

por toda casa por toda saga

que fazíamos surgir nesta história

maldita memória convencida

ela se usa de roupas finas e fica

na porta me olhando

quando vai sair p'ra procurar

outro affair pra possuir este espírito

cansado...

...é que a vida abundante me engana

me ilude como pude estar perplexa

olhando figuras de sonho

das coisas que se foram?

MÚSICA DE LEITURA: Billie Holiday - Stormy weather

João Marcelo Pacheco
Enviado por João Marcelo Pacheco em 06/09/2016
Reeditado em 06/09/2016
Código do texto: T5751795
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