DE DOSTOIÉVSKI A REPLICANTES: DIVAGAÇÕES SOBRE SUBTERRÂNEIDADES.
Os subterrâneos, vez ou outra emergem. A terra embora estável, nunca é estática. Dela vem os cataclismos que assombraram de Atlântida até hoje. Nela moram os vulcões e os vulcões que fecham seus olhos por séculos. Hoje me peguei pensando nos subterrâneos, filhos da terra. Vi imagens dos subterrâneos de Dostoiéviski. Aqueles da revolução pessoal tão resistente, subterrâneos da nossa psique, estruturas rígidas que não movem tão facilmente, algo como alguma parte distante e rochosa das terras de nós. Minha memória, a memória dos subterrâneos, veio também em forma de nostalgia de outros tempos saudosistas e suas canções. Mas, deixando o saudosismo de lado, essas canções trouxeram a tona um outro tipo de subterrâneo que vai de encontro ao dia de hoje. Este que surge agora é o subterrâneo político. Este é daqueles todos que vivem no subterrâneo, daqueles que se movem, se esgueiram, pouco aparecem nas luzes da mídia, não são pela luz exterior consagrados, aqui não há palácio de cristal. Este é o subterrâneo de quem precisa correr na escuridão. Este é o lugar que parece estático, mas, onde tudo se articula. Subterrâneo da desilusão e da esperança, sobretudo, do aviso. É o subterrâneo onde se escondem alguns dos videntes dos quais William Blake falava. Onde algum vagabundo anuncia que é preciso lutar, antes que tenhamos que falar, escondidos, dos nossos abrigos nucleares. Antes que ficção científica se torne novamente realidade amarga.
Da neve molhada de Dostoiéviski para a chuva na minha calçada. Assim caminham os processos da memória e as subterrâneidades. Jogos dos vermes intrínsecos ou daqueles que assim aparentam as olhos das falsas luzes. Certo é que sempre há movimento no subterrâneo.