FOME

Os olhos compridos na carroça de lata que se abria extraordinariamente todo santo dia!

Seu Catim, passava devagar pelas ruas Sagrado Coração que era de terra e muitos buracos, (onde eu morava com meus seis irmãos), também na Leopoldo de Bulhões já com seus paralelepípedos (que ralaram meus joelhos correndo com minha bicicletinha).

Ah seu Catim!

Trazia em sua caixa de lata------chamada por todos de carroça----,

puxada por aquele lindo cavalo malhado em cinza e branco, chegava na periferia, repleta de crianças famintas, buzinando com sua corneta de borracha também vermelha, e quando alguma mulher magra pedia para que ele parasse, corríamos em bando......coitada da mulher magra que trazia só seus trocadinhos..... tinha que voar pra dentro numa perna (asa) só.

Quando conseguíamos fios de cobres e vendas de garrafas, aí sim, comprávamos os sonhos pulverizados de açúcar refinado e recheados com goiabada do Seu Catim.

Quantos anos se passaram!

Comprovo ainda hoje, aqui na periferia da capital, crianças de olhos arregalados quando passa a moto ou o carro das pamonhas com seus alto falantes anunciando recheios maravilhosos.

Observo-os e sinto que tudo continua igual ao meu tempo de menina.

Há fome.

Entendo a caminhada humana, é disfarçada e longa.

Ouço meu secreto que acende gerações e suas candeias perdidas ou achadas no tempo.

Que a vida seja de consciência sem qualquer precisão!

Amém.

Arana do cerrado
Enviado por Arana do cerrado em 22/08/2016
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