Tons familiares
O arbóreo caminho que levava à casa
era evanescente.
A luz opaca do céu tingido
de laranja dos campos,
ajudava nessa impressão.
Um telhado tomado pelas trepadeiras
fazia companhia para as árvores,
sem folhas,
que a casa rodeavam.
A última árvore era como um poste
na ladeira que subia o caminho da casa.
A fria chaminé tocava o monte
aprazível e bege.
Ele era um sobradinho incólume
a qualquer espécie de inseto;
preferiam a claridade ao abrigo
das vizinhas casas.
O telhado da casa vizinha
parecia uma ponte,
que chegada ao final dela,
daria de encontro com as hospitaleiras casas.
O verde-musgo da casa ao lado
era o oposto da (outra) pálida casa.
Ela também tinha um sótão e,
que não tinha nenhuma teia.
Era abstrata a porta de entrada,
mesmo sendo convidativa
como sendo duma estalagem à beira-mar,
parecia que estava só e,
que havia caído um pequeno tormento
na noite passada.
A janela de madeira, ao que tudo indicava
ser de pinho, também parecia estar
trancada a anos.
Crescia, quase que encobrindo a janela
da lateral da casa; cedros.
O perfume deles, topavam com as árvores
subindo o caminho.
E um matinho lutava para penetrar
além das encostas da casa e,
como da casa ao lado,
torná-la encoberta dum penetrante verde.
De noite a tremendos temporais,
era como num castelo ou,
numa oca revestida por tapume.
E, de tarde, ao escurecer,
um provisório quartel.
Seu telhado não era simpatizante
de fosforescência,
nem dos cansados vaga-lumes
de rodar em falso pela noite.
Para à ela chegar, era preciso
descer uma pequena inclinação musgosa,
até chegar a um pequeno pátio
de cor pétrea.
Nesse ocaso, uma linda folha tonante
tentava comunicar-se,
com a típica casa de campo.
Pronta a ser envolvida,
em seu próprio conjunto de sonhos.
***
São Paulo,
29 de outubro de 2008.
*Prosa poética
**Foi baseado no quadro 'A casa do enforcado', do pintor francês Cézanne.