VIELAS

Fiquemos mudos, entremos em mundos ímpares e corramos pensamentos. Isolemo-nos em vozes mortas, em cavernas rabiscadas por ossos soltos em solo remexido, em canteiros vivos sempre a dar novos frutos. Não quebremos o barulho do tempo com palavras soltas. Deixemos as veias aguarem nosso cérebro - incansável em ânsia. E nossos olhos piscam distraídos e até parecem cansados, mas não, apenas um raio estilhaçou e abriu um buraco na carne - por isso ficamos assim: estáticos, desnorteados. Sabemos que em nosso vagar apreciamos a não consonância – em alguns é essencial. Admiramos o nada com curiosidade. E o sol queimando nossas peles, e as barreiras rompidas, e monumentos gigantescos dentro e fora de nós sempre a nos desnudar. Impressionados, deslizamos os sentidos, a mente, e as sutilezas nos deixe de braços abertos - e no alto - um voo sem compromisso, apenas um voo em si, sem qualquer interesse de ultrapassar os minutos antes de usufruí-los. E seguimos a observar o interior em cores externas pelos murais da cidade. E as falam tilintam e nos perdemos dentro de nós, pois os mundos se abrem e expõem indecifráveis enigmas. Mas não há o que temer - talvez o foco seja mesmo o desalinho. Então o sol se esconde e a noite não consegue nos escurecer, e mais vivos do que nunca rabiscamos nossos corpos, perfuramos nosso eu, atiramo-nos por vielas...

Valdon Nez
Enviado por Valdon Nez em 20/08/2016
Reeditado em 19/10/2020
Código do texto: T5734132
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