OUTRAS PRECIOSIDADES (40)

VENTOS DA NOITE

Como uma bambolina a Lua na altura deve

arquear-se... Ventos da noite, tenebrosos ventos !

Que rugem e fendem as ondas do ceu, que pisam

os tetos com pés de rocio. Estirado, dormindo,

enquanto as ébrias ressacas do ceu desmoronam

bramindo sobre o pavimento. Estirado, dormindo,

quando as distâncias terminam e voam trazendo

a meus olhos o que estava distante. Ventos da

noite , tenebrosos ventos ! Quão pequenas as

minhas asas neste golpe tremendo ! Quão

grande é o mundo diante de minha garganta

abatida ! Entretanto, se eu quiser, posso morrer,

estirar-me na noite para que a ira do vento me

arraste. Morrer, estirar-me adormecido, voar na

violenta maré, cantando, estirado, adormecido !

Sobre os telhados galopam os cascos do ceu.

Uma chaminé soluça...

Ventos da noite, tenebrosos ventos !