Vertentes

Meu queixo é duro, meu pensamento escuro, livre mas obscuro, osso duro de roer no estranho som do ranger de dentes, moendo grãos e sementes, pra sobreviver na dura missão de não morrer.

Meu coração é de papel, meus olhos um pincel, que pinta os sete mares dos meus trinta desejos.

Meu sonho achocolatado, com cobertura de um creme de mel da vida que não vi, que não vivi, denunciando meus sobejos. Meus olhos estranhos existem pra ver, depois crer. Meus cinco sentidos, perdidos, interligados, me habilitam para a magia do viver, sem me perder.

Sou pura bobagem, nessa viagem de horrores e de dores de uma caminhada estranha, misteriosa, não requerida, sofrida, não solicitada, mas imposta, por algo impoluto, resoluto.

Minhas mãos são sagazes serpentes que exploram meu próprio corpo em busca de vertentes, escoando meus meus pensamentos e meus lamentos,
Sou a certeza do choro e do sorriso, sou ainda a esperança da minha andança, de uma mudança de uma insistente perseverança.

Sei que um dia chegarei lá no ponto final, de uma vida sem sal, onde tudo é pontual, fatal, regimental.

Sou experimental segundo a horda espiritual, mas sou que nem um rio de águas mansas e turvas que nasce de uma gota com brilho esplendoroso, corre, corre fertilizando a terra da ilusão e morre no mar com um gemido estrondoso, onde ironicamente será transformado em sal. Sou pois, tal e qual.