Manifesto ao amor.
Pela vida secreta dos garotos de olhos fixos virados inconsoláveis para baixo,
pelo temor púbere dos jovens viciados em exposição fácil e gratuita das redes sociais,
pelas pessoas bondosas e cívicas que civicamente atacam com ódio,
pelos moribundos nunca mortos, e por isso escondidos atrás das pontes, nas esquinas, bêbados e trêmulos e loucos da caridade pessoal,
pelos que morrem de amor, e morrem e choram e sobrevivem, e gastam no pente lágrimas ácidas de ácidos não batidos,
por mulheres lindas e negras, e lindas todas as mulheres que choram e sofrem e são oprimidas,
pelos homens que não sofrem, não choram e por isso são impedidos de sentir, embora sejam apegados às suas barbas,
pelos poetas apaixonados, e por serem poetas apaixonados, dão mais do que recebem, e recebem menos do que sentem,
pelo amor que pareça pouco, porque sempre é pouco o amor que percebemos, mas que seja maior que os prédios metropolitanos cheios de falsa segurança e seguranças com olhos atentos a nada,
pela verdade dos beijos, dos teus beijos, dos nossos beijos ou dos beijos de nossos vizinhos transando ao anoitecer,
pelos sentimentos que guardamos, e que guardados perdem valor,
pela escassez dos índios escassos em nosso solo,
pela vida dos meus, dos homens, mulheres, perdidas à facadas e tiros e bombas por ignorância utópica de um mundo inexistente,
pelos diferentes iguais à quase tudo, menos ao que sente, e sentem os diferentes,
pela vida vivida sem temor (temer),
pelo afeto que compartilho com você.