Monólogo
Escrevo sobre a clara escuridão de não saber como isso me acontece, o que sempre me surpreende, em silêncio, pensando comigo mesmo. Há sempre uma emoção. Qual será a próxima coisa que irei pensar? O que irei escrever? O não saber que iria escrever a pergunta atrás me fascina. O mel escorre pelas minhas palavras adocicando minha vida com a fantasia do imaginário.
Não sei se sou eu que penso... ou se de alguma forma as palavras, pela sua própria natureza, já conceba um ser imaginário fora de si mesmo (eu) como causa de sua existência. Que é a vida senão isto? Isto, o que é? Isto! O real? Oh não, o real pensado não existe; não como realidade absoluta. Não, não... o existente, o que existe. O real é o que existe. Como isso me soa irônico. A vida se expande até ao absurdo numa louca profusão de seres. A forma como a vida se comporta é forçosa para o pensamento, que não concebe a realidade da diversidade, da diferença, do desconhecido que é ele mesmo. Para o pensamento a vida é um peso insuportável, uma loucura, por isso ele precisa reduzir essa vida a uma forma de vida que ele possa suportar. De onde surge a loucura se o real é só uma questão de ponto de vista? A palavra real não deriva da ideia de verdade, de uma única verdade, se não estou enganado? Toda verdade pensada é formulada, é símbolo. Há muitas verdades no mundo, mas só a verdade real é o existir. O manicômio está na própria forma de existir, a loucura é o real que criamos para existirmos.
Escrevo isto sobre o relance de um olhar e fico a pensar distante, sem saber porque penso, como se esquecido de si mesmo, se a vida não será isto - o que seria senão isto, um relance de olhar entre dois espelhos?...