“Suicídio” contra ventura

“Suicídio” contra ventura

Adeilton Muniz

A vida não é cara, o seu preço é o tempo. Nenhum homem consegue pagar esta conta, ileso. Seria preciso viver durante uma vida inteirinha talvez para inventar uma maneira de como abordar a palavra antes de ser ordenado por ela a dizer somente: repetição. A palavra é uma capa silenciosa, aguça o mistério, fala e não diz, faz o barulho necessário a confundir tanto aqueles que ficam e olham o que não consegue ver, quanto os que passam rapidamente como o susto arrebatador, criando intervalos na consciência dos mais perplexos, e irisando o caminho dos obedientes. Sorte que a vida é um vai-e-vem na luz do lampejo, por isso pouco importa o preço, se a vida não é cara, se o homem continuará escravo da linguagem, se não pode primeiro de tudo estar livre do tempo, pouco importa. Importa, importa, importa muito quando há e quando não há resignação; a própria condição de humano diz se importa ou não. Permanece no ninho enredado nos fiapos de vida seca, pedindo ajuda ao acreditado guardião absoluto do mistério, compactuando com a mais sublime maneira de se estar cego, obedecendo a uma das maneiras de ser pobre em demasia, miserável até; o mais próximo da riqueza sobre-humana, o mais vulnerável à própria luz, que sendo promessa, sendo aceita, é guardiã, guarda o vazio no oco. Preso está aquele que não se assume como uma flecha já lançada, a tocar o vazio, plena de si, de saco cheio, sem vontade de obedecer ao seguimento que está a lhe orientar na vida enquanto vida. Quebra em súbito destino, e continua a viajar sem ventura, se distanciando dos que obedecem, sem por isso atingir maiores alturas, sem por isso estar menos cego, menos ridículo, mais vivo ou mais seguro dos próprios horizontes. Perceber-se lançado, causar a própria fragmentação, isso ainda não é gozar de liberdade por direito da explosão, é se dar conta da mais premente necessidade, se auto-destruir para se arrojar a destruir o tempo que regula a volúpia que é estar vivo; é sobreviver diferente, com a magia que exala do corpo, sem a gana de transformar em respostas o vício de indagação...

troclone
Enviado por troclone em 19/07/2007
Código do texto: T571455