Entre a escuridão das Correntes

Embora as correntes apresentem sempre sinônimos de força estou aqui, despida como uma flor aos ventos de outono, como um vidro em cacos a jorrar pelos ladrilhos avizinhados do rio

O medo varre minha alma, e a vergonha enlaça-se como um câncer que destrói célula por célula

Estou à beira de um rio de confusões, de conflitos, à beira de mim mesma que agora escorrega como álcool sobre as cicatrizes de um sangrento e massacrado corte.

Estou em mim mesma, latejante, sem riso, sem semblante, novamente massacrante

As cores já fugiram, e a escuridão tomou posse de vez

Eu não vestia preto, recusava-me, mas sem fala, silenciada, ele vestiu-me de escuridão, de medo, de fome

Embora ainda haja focos de luz aqui dentro, sinto-me frágil, sinto-me vidro, e por fim tão sozinha, tão intima, jorrando lágrimas que lubrificam os espaços entre os ladrilhos

Estou escorrendo de mim mesma, numa liquidez oleosa, continuando sozinha, escravizando os joelhos a esperar a hora das correntes quebrarem para um novo mergulhar.

Rayron Lennon
Enviado por Rayron Lennon em 28/07/2016
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