Entre a escuridão das Correntes
Embora as correntes apresentem sempre sinônimos de força estou aqui, despida como uma flor aos ventos de outono, como um vidro em cacos a jorrar pelos ladrilhos avizinhados do rio
O medo varre minha alma, e a vergonha enlaça-se como um câncer que destrói célula por célula
Estou à beira de um rio de confusões, de conflitos, à beira de mim mesma que agora escorrega como álcool sobre as cicatrizes de um sangrento e massacrado corte.
Estou em mim mesma, latejante, sem riso, sem semblante, novamente massacrante
As cores já fugiram, e a escuridão tomou posse de vez
Eu não vestia preto, recusava-me, mas sem fala, silenciada, ele vestiu-me de escuridão, de medo, de fome
Embora ainda haja focos de luz aqui dentro, sinto-me frágil, sinto-me vidro, e por fim tão sozinha, tão intima, jorrando lágrimas que lubrificam os espaços entre os ladrilhos
Estou escorrendo de mim mesma, numa liquidez oleosa, continuando sozinha, escravizando os joelhos a esperar a hora das correntes quebrarem para um novo mergulhar.