CÂNTICO À BRISA
A brisa é um cândido e suave sopro dos dias, das noites, das madrugadas, a dançar lânguida e terna nas tranças e nos fios de cabelos ao longo de seu caminho. Ela sussurra quase fugaz, levemente arredia, percorrendo as ruas, esquinas e praças e entrando de forma bem vinda e sorrateira através das janelas e portas abertas, pelas frestas mais ínfimas aqui e alhures e em meio aos recantos difusos dos telhados amplos. É o hálito fresco e agradável da natureza, a voz tímida do tempo, farfalha as folhas das árvores por onde se entranha, diverte-se em desgrenhar penteados, encanta, agrada, extasia.
Na brisa, o falar do infinito parece quase palpável, quiçá visível sem se notar, e em seu âmago misterioso irradia-se um cântico esplendoroso capaz de ser percebido pelos poetas, porém é imperceptível para os indiferentes, é nota musical e sinfonia, é dançarina e bailarina, é ponderável e translúcida, é baile e dança, é abraço e suspiro. Misteriosa, como são os elementos naturais cuja origem a física ou a química não ousou decifrar, ela vem e vai lenta e plácida à guisa das ondas em mar calmo, talvez sorrindo porque viva, decerto chorando serena em lágrimas que podem se transformar em orvalho em lugares que ela escolhe com esse intuito.
Gostamos da brisa, contudo nunca nos detemos para desfrutar-lhe a essência nem para olhar com o coração o seu sentido, o seu objetivo, seu multifacetado encanto que não se mostra por motivo inexplicável, mas que é sentido e aprazível a quantos a tocam com a alma. Ansiamos por ela nos desertos físicos e emocionais, abraçamo-la na poesia, amamos seu beijo apaixonado quando roça carinhosamente nossos lábios e sua doçura nos livrando da força opressora do calor por nosso corpo.
A brisa é dádiva vinda de longe, presente que nos chega nos momentos mais adequados e inesperados, e a recebemos de braços abertos para um demorado abraço crescente de ternura.