Abalo sísmico no peito

Não é nenhuma dessas invenções hollywoodianas. A noite fugiu dos meus olhos quando balbuciei naquele abraço e você me disse, altivo, que me amava e pediu para que eu nunca duvidasse.

Segunda feira. Estou debruçada numa cadeira de balanço caindo aos pedaços, rindo de guinés correndo na chuva e cães latindo para as árvores. Uma criança me disse que deus é o moço do algodão doce e que a vida é a armadilha mais fácil de cair.

Recebo um SMS às 3 da madrugada enquanto lavo a louça e ouço aquele jazz da época em que arrancávamos as unhas a cru e engolíamos a seco. “Errar é próprio de quem confia”. Emoldurei essa frase na minha parede de sátiras em epigrama. Bastou um abalo sísmico no peito para o porto seguro desabar e desistir. “Seguro firme tuas mãos”. Hoje as mãos não fazem mais que acenar.

Está maçante aqui dentro. Execro qualquer relação de promessas e fala de autoajuda proferida por intelectuais. Escarneço. Somos todos desgraçados. Crentes das mentiras não anunciadas.

Tentei apartar do mundo quem do mundo me acolheu, mas logo cansou. Falhei. Antes tivesse trancafiado o sorriso que ousou florescer. Tentei fechar a cova que são minhas vontades. Falhei mais uma vez, miseravelmente. Também desisto desse contato fugaz. Mas a ausência sempre ocupará seu espaço.

Hellen Leandro.