MARIA

Pelas letras de GIBAWRITER:

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Ele me espia pelo vão das águas. Decifra o crime que cometi em sonhos, revela minha dupla personalidade, minha solidão. Na minha carne, desenha seus caminhos de rota e porto. Visto-me astrolábio e bússola. De águas me torno. Agora, oceânica.

Por essas águas, tenho direito de chorar por coisa alguma. Nada que valha, nada que deserte, apenas ondas fluindo dos olhos. Marejados. Mareados. Levante onde escorrego os medos e flutuo antes do mergulho. Trago comigo esses corais que me adornam a alma a que não me perca nessa parte escura e indecifrável do fundo.

Sou-me entre o quente que me encharca e os sargaços que me moldam. Estou-me entre o sopro da maresia e a borrasca que desaba. Devasta, nefasta, devassa. Finco-me ao tridente antes que o magma derrame e seque as águas.

Sou sal. Ainda na água, não depurado. Iodo. O número 53 que se sublima e se eleva violáceo. Misturo-me ao horizonte e mareio, mareio, mareio... Trago uma fertilidade de saciar as fomes e me deixo ir, vir, ir, vir. Espumo com a ira. Ora só toco pés, ora afogo. Engulo e devolvo. Trago esse manto imenso que eriça velas e mastros e os cobre em noites de tempestade.

Outras águas em mim.

Deixo que a lua e as estrelas se encostem. Brilho noite. Ao longe, há o barco, há o porto. Vou-me com ele.

Ele, que me espia pelo vão das águas. Ele, essa espécie de homem que temo e chamo, dono de todas as sabedorias.

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