O AMIGO QUE NÃO CONSEGUIU ASSISTIR O FILME COM BRUNO S.
Houve um tempo que quase todo dia James contava ao Johnny e ao Super seus planos de entrar em sua caminhonete Ford desgastada pelos anos e sair por esse mundo de meu Deus. Assim como fez Guevara em sua motocicleta. Assim como fez “Ombros Largos” e “Aquele que Segue”, que sem saberem estavam em busca de si mesmos, não de alguém que perderam por causa da névoa que habita os vários ângulos de nossos desertos hostis.
Nunca mais vi meus irmãos. Depois que deixamos o campo com obstáculos mortos pelo portão que tinha três metros de altura, nunca mais os vi, nem nos trens, nem nos ônibus, nem nas encruzilhadas que essa vida tem. Mas ainda vejo o grito de horror cortando o céu por trás das árvores a caminho do fim. Ainda sinto os cortes no corpo e ouço a amarga sinfonia na noite fria de junho, ou de maio, não me recordo bem, que poucos de nós têm coragem de contar.
O fantasma ronda a área em noites de chuva. Tentamos esconder nosso medo. Tentamos fingir que certas coisas não existem, mas o silêncio depois das dez mostra que elas estão aqui, medindo nossos passos, cheirando nossos corpos suados, que vão, de um lado para o outro, embaixo do frio que vem do céu.
O sábado se arrasta. As horas não passam. O relógio de pulso parece não se mover. Os armários e as paredes pintadas de branco, vêm em nossa direção tentando nos sufocar, tentando nos atirar lá embaixo, no pátio manchado de almas.
Já faz muitos dias que não vou pra casa. Já faz muitos dias que não vejo o sorriso de minha mãe. Já faz muitos dias que não a abraço. Já faz muitos dias que os peixes do aquário não brilham mais.