Oclusão


O pior não é quando o coração se tranca, pior é quando você não sabe aonde está a chave? se está com alguém, perdida ou sendo feita.
(Caio Fernando Abreu).



Hoje eu queria escrever sobre o amor, mas não me veio inspiração.
Respirei fundo, ergui os olhos e vi nuvens esparsas. O sol brilhava.
Visitei o pomar e o jardim, para sentir a beleza que emana dos frutos e das flores e assim criar versos de amor bonito. Meu coração breu pulsava sem a munificência necessária, que germina estesia e preenche de êxtase o vazio da alma.
Sentei-me em um banco rústico, tal qual encontrava-se o meu coração, e com as mãos em forma de taça sob o queixo, repousei a cabeça, na tentativa de avigorar ideias de amor, mas a oclusão devassava o meu ser e o nada nadava em meu coração.
Um beija-flor assanhado multicolor passou de raspão e mal o percebi sugando o néctar das flores.
Olhei-o distraído em suas agitadas asas, como se estivesse ali para eu notar.
Pousou em um frágil galho de brinco-de-princesa.
Seus olhos pareciam duas pequeninas luzes e ainda assim os versos de amor não afloraram.
Corroído pela ausência de placidez e inquietação, irritou-me o toque toque de um pica-pau de crista vermelha no tronco de vinhático, como se quisesse que eu percebesse a força do seu bico.
Depois vieram miquinhos pulando de galho em galho, bicos-de-lacre devorando sementes de braqueara.
Um casal de sabiá cantava, anunciando chuva
E eu não sabia chover palavras que descrevessem o amor em sua pura essência.
Tal era a minha oclusão, tal era a minha ausência.



Imagem: ma dos dedos de jef/lj 

Poema do meu livro Palavras de Amor - Editora www.24horas.com - 2011. 


Está no ar A Moça do Violoncelo-Estrelas, meu último lançamento. Dois livros em um, 176 páginas de prosa e verso. Para saber mais entre em contato com o autor.

www.jestanislaufilho.blogspot.com