Paisagens da Alma XXIX
Caminha ele, malogrado, com suas tábuas de valores, o mais insatisfeito de todos os animais, ele, o que nunca está contente consigo mesmo, o animal-não-fixado - o último homem. Seus olhos perscrutam todas as coisas, nomeando-as, separando, dividindo em gêneros, e diz: isto deve ser bom, aquilo deve ser ruim. Embriagado de ilusão ele imagina, sonha, delira com as impressões de seu espírito, julga a natureza de sem sentido, diz o que é verdadeiro e ilusório com base em suas próprias afecções. É um sábio inverso, dos avessos.
Sente a natureza inteira ao seu redor esvoaçar, a vida se desintegra num niilismo profundo - nada vale apena, nada justifica, caminhamos para a morte. Sente a vida como um peso sobre suas costas, e vive sua existência como um esporão na carne do presente. Segue ele, o animal doente, em combate consigo mesmo rumo ao além.
Caminha dividido, seu ser interiorizou-se no ressentimento, julga a vida de culpada pelos seus afetos negativos que se lhe mostram no espirito, e caminha sem sentido para os braços de sua morte. Sim! Sua morte. Sofre de si mesmo, acredita em tudo que lhe vai passando pela mente, vive a mercê de si mesmo, e constrói sua vida sobre uma ideia do imutável.
Caminha ele, o último homem, para a degeneração da vida e vontade de nada. Quer facilitar, quer tornar a vida pacífica, por isso inverte valores, mistura tecnologia, convence pelo número do rebanho. Odeia a mentira, mas é o criador dela. Ama a verdade e é criador dela. Seletivo segue o homem, o último homem, em busca de uma luz.
Quem pode dizer-lhe que a luz se encontra em seu espírito, e que basta acender a luz para sair da escuridão? Quem? Se todos somos ele...