Mar

Sentada na esplanada do Bar da praia

Valadares, Vila Nova de Gaia,

Olhei em frente, e admirei mais uma vez o mar,

Ondulando ao sabor do vento que fazia no momento…

Na areia ele se vinha espraiar, cansado talvez de tanto marear…

Senti em mim, uma forte vontade de perto o saudar… Tocar…

Levantei-me, caminhei um pouco pelo passadiço, feito de velhas

Tábuas de madeira, vindas e já muito vividas da linha férrea do Douro, e fui na sua direcção… Já com os pés descalços, senti o cocegar (palavra por mim inventada) da areia amarelada nos meus pés. E a cada passo dado, mais perto eu estava do “meu” mar azul,

Da sua imensidão, da sua vida…

Perto, cada vez mais perto de o sentir, uma brisa mais fresca me enlaçou. Senti-o no ar, e por fim o nosso encontro chegou.

Primeiro, meus pés gretados, devido á Quimioterapia ele “beijou”.

Foi um “beijo” forte, ardente, não havia como a sentir, e apesar da dor/ardor eu dele não queria fugir ou sair.

Entrei mais um pouquinho, e ele “beijou” meus trémulos joelhos,

Depois minha estreita cintura, e por fim “beijou-me” por inteira com muita força e ao mesmo tempo ternura.

Deixei que o fizesse, senti-me necessitada disso… D`alguém que me “limpasse” e renovasse. Precisava de me sentir, se é que isso existe pura… Precisava mesmo… Vim á tona da sua água salgada e libertadora, mas ele voltou a “beijar-me” e não me queria largar. As impurezas em mim eram tantas que precisava de as purgar. Novamente, na sua onda me deixei levar, sabia que mais tarde, voltaria á areia molhada, quando ele achasse que não havia mais nada a limpar.

Numa ondulação dançante, juntos acabamos por dar á praia. Enrolou-me em si, e deixou-me na areia molhada, coberta por salpicos de espuma salgada. Mas não foi embora, ondas pequeninas “beijavam” meu corpo, ainda deitado sobre a areia molhada.

Levantei-me, e senti-me bem, muito bem… Para me despedir dele, mergulhei sobre sua onda, deixei que o que eu sentia por ele me atravessasse e o inundasse e assim ele sentisse a minha gratidão.

Por instantes, pensei ter visto um grande sorriso dourado, reluzente, lindo e imaginei-o a sorrir-me e sorri-lhe também. Mas o sorriso não era dele, mas sim do sol que se reflectia nele e se preparava para “deitar”. despedia-se do dia para dar lugar á lua para a noite iluminar…

Relaxada, fiz o caminho de volta pela areia, pelo passadiço, e voltei á esplanada do Bar da praia. Olhei o horizonte, olhei o mar, e vi Deus em tudo aquilo, e também no que tinha passado e sentido, e mais uma vez entre tantas outras, vi como é bom viver e sentir a vida… Como é bom ter Deus comigo a meu lado… Como foi bom mais um dia eu ter para a vida acordado…

Gratidão meu Deus amado…

Maria Irene
Enviado por Maria Irene em 10/07/2016
Reeditado em 10/07/2016
Código do texto: T5693284
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