Os Próprios Fins do Mundo

Eu sou meio louca. Ok, isso é um fato. Um ser humano completamente confuso e bagunçado.

Tudo confuso.

Dentro de mim é tudo confuso. Uma angustia que cresce com a vontade de ser feliz, uma anula a outra e eu não sinto nada. Como pode? Sentir tudo e nada ao mesmo tempo.

Afundada na areia movediça que é a depressão, hoje me sinto nela novamente. Chega a ser clichê falar de depressão em tempos atuais, não é? Todo mundo tem, todo mundo passa por fins dos seus próprios mundos. O meu é só mais um.

Ouvi uma história uma vez, era sobre um homem e uma garotinha, se não me engano. Um homem estava perdido em algum lugar muito isolado de civilização, e fora mordido por uma cobra , ficando assim muito traumatizado. Encontrou essa garotinha, que o perguntava consecutivamente o porquê de tanta tristeza e o homem um dia resolveu contar, achando que ela pararia de o perturbar. Mas depois disso, a garotinha passou a questioná-lo com mais frequencia, até que um dia aquilo parou de o incomodar. Ele falava abertamente para qualquer um que o perguntasse sem se sentir nenhum pouco mal com isso.

Então eu gosto muito de falar. Falo pelos cotovelos, falo com qualquer um. Muitos dizem que é um problema, que eu deveria parar com isso. Me conter, sentir vergonha do que sou, ser mais tímida, mais discreta... Mas eu nasci sendo assim, tímida, calada, e se eu evoluí, vou querer regredir por quê?

Então decidi desabafar nesse texto. Vai ser uma forma de falar com qualquer um que se interesse em me compreender melhor.

Tudo confuso.

Dentro de mim é tudo confuso. Uma angustia que cresce com a vontade de ser feliz, uma anula a outra e eu não sinto nada. Como pode? Sentir tudo e nada ao mesmo tempo. Me sinto como um pássaro de asas cortadas, uma liberdade que é como um instinto sendo oprimida. Todo mundo passa por fins dos seus próprios mundos. O meu é só mais um.

E estar rodeada de pessoas sem se sentir amada? Meu Deus... eu me sinto tão vazia. Tão incompetente, sem diferencial ou talento. O ser humano mais inútil e sem graça do planeta. Incapaz de fazer alguém querer estar ao meu lado. Talvez eu seja muito apegada, tenho certeza que meu jeito assusta as pessoas. Não é de propósito, eu só fui sozinha por muito tempo, e ainda sou. Eu só gosto de saber que as pessoas gostam e queiram estar por perto, mesmo que elas não possam. Só gosto de me sentir útil e especial. Alguém interessante, inteligente, engraçada... alguém querida.

Mas eu também sei deixar elas irem embora, mesmo que doa. Sei não me importar, não procurar, não sentir absolutamente nada. E é aqui que entra o lado que eu não entendo. Como sentir tudo e nada ao mesmo tempo? Como gostar de qualquer pessoa com tanta facilidade, mas quando ela se vai não sobra nada. É como se ficasse um vazio. Mas não um vazio de saudade, como se ela fizesse falta. É um vazio como se a pessoa nunca tivesse estado ali, e esse vazio doesse mais do que se você sentisse qualquer outra coisa que seja considerado "normal". E aí você para de se importar, cria indiferença por alguém que antes você não saía de perto.

Eu não tenho vontade de viver, me sinto um navio ancorado no porto. O pássaro citado lá em cima: depois de anos com as asas cortadas, perdi a vontade de voar. E as vezes eu realmente me revolto com isso. Eu tenho tanta sede de vida, tantos anos pela frente, coisas novas para descobrir, recordações para se guardar. Eu não posso me contentar com a imensa vontade de ficar deitada o dia inteiro sem precisar falar com ninguém. Eu preciso de mais que isso, e eu quero mais que isso. Mas ao mesmo tempo não quero. Como pode se sentir tudo e nada ao mesmo tempo?

Eu não consigo me apaixonar. Eu consigo me encantar, gostar de estar perto, de sorrir bobo quando recebe mensagem. Mas é só isso. Não faria diferença nenhuma se a pessoa do nada sumisse também. Não me apaixonei, não me envolvi demais, não me entreguei. Não porque eu não quis, porque eu quero, mas porque eu não consigo. Tem algo me bloqueando, e eu não sei que porra é essa. E isso é uma coisa que tem me doído bastante, me incomodado de verdade. Mas eu também acho bom. Ah, qual é?! Se envolver com pessoas livremente, sem responsabilidade com nenhuma delas, só curtindo o melhor de cada um por aí? Quem é o doido de não gostar disso? Mas, como posso sentir tudo e nada ao mesmo tempo?

Eu acho que meu problema é esse, querer ser um barco pirata numa tempestade em alto mar, mas também gostar de ficar ancorado no cais. Eu queria o aconchego de um abraço, o carinho de um beijo na testa, o calor de um peito pra dormir... eu só queria amor. Não importa qual. Eu quero me sentir amada, querida, mas com a liberdade de voar, solta, em direção ao sol.

Tudo confuso.

Dentro de mim é tudo confuso. Uma angustia que cresce com a vontade de ser feliz, uma anula a outra e eu não sinto nada. Como pode? Sentir tudo e nada ao mesmo tempo.

Afundada na areia movediça que é a depressão, hoje me sinto nela novamente. Chega a ser clichê falar de depressão em tempos atuais, não é? Todo mundo tem, todo mundo passa por fins dos seus próprios mundos. O meu é só mais um.

Anna Clara Bispo
Enviado por Anna Clara Bispo em 10/07/2016
Código do texto: T5692897
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.