Paisagens da Alma XXVIII
A dor de dente despertou a consciência imersa em sua persona, esvaziando-a, libertando-a dos pensamentos que se utiliza no teatro social; e como a dor faz lembrar que se vive, e não podendo evitar a consciência da dor, destaca então a existência do próprio indivíduo no mundo, que se vê esmagado pelo isolamento onde é o único a ter consciência de sua dor e seu vazio existencial.
Sinto todo "meu" universo doer e estremecer, escrevo para "aliviar" e ao mesmo tempo divagar sobre esta dor que não há homem no mundo que não a sinta e não deseje pará-la. Será, talvez, o sentimento do nada o motivo pelo qual todos buscamos algo externo para nos preencher? Talvez! Será por isso que todos queremos fugir do sofrimento? Mas, nesse caso a dor estaria nos convidando a conhecermo-nos como somos. Nada ser amendontra. " É só isso?", diz a mente para não encarar a realidade. Este "só isso?" é a "insustentável leveza do ser". Ver-se a si mesmo no mundo com o mundo dentro e fora nos faz desejar que alguém nos conduza num caminho seguro. O que acontece ao pensamento no sofrimento? Ele tende a justificar e a conduzir a dor em sentidos que se encaixem em sua trama existencial para poder suportar o peso de sua existência e isolamento. "Pois se eu sofro, alguém ou algo deve tê-lo causado", portanto, não só julgo a vida pela falta de sentido do sofrimento como também fujo do meu vazio existencial. Ou seja, de mim mesmo. E para isso a modernidade possui recursos infindáveis. Vendemos a nossa alma ao diabo em troca de uma liberdade comprada como um objeto. Como se a liberdade, o sentir-se livre, fosse um objeto que pudesse apreender os limites e defini-lo. Não, isso é remédio para os efeitos colaterais causado pela insanidade gerada pela busca constante por liberdade. Liberdade é um estado de ser, não uma conquista.
Vejo-me - com o conhecimento inerente que me é próprio de ser - inteiramente imerso na existência com o universo girando dentro de mim, e eu comigo dentro, onde escrevo sobre a explosão de mil sóis e um sombrio aspecto de solidão. Sinto a dor enrigecer-me o maxilar, e um lado da face misturar-se a sensações frias e quentes, como se por dentro, na raíz mais funda do ser, gelo - em seu aspecto mais rígido - e lava travassem uma batalha violenta, ecludindo e implodindo na consciência a consciência de mim mesmo em isolamento...
É melhor ir tomar um remédio...