Extravasamentos...
Extravasamentos...
Postado por aecio kauffmann colombo da silva em 3 de Julho de 2016 às 11:28pm
E, de repente,
nos damos conta de que,
sem o querer,
estamos plantando uma imagem
destorcida,
na mente de novos
e velhos amigos
E, de repente,
nos descobrimos
rudes ,
indelicados e
tresudando desinteresse..
Vestidos
com uma roupagem
que não é a nossa
E combinando cores
que não nos correspondem..
O dia a dia
com as suas protelações,
com os seus esquecimentos,
acaba por nos transformar
em monstrinhos sofisticados
devoradores de bem querenças...
E só aí
nos damos conta de que,
foi ontem, que nos esquecemos
de nos levar até aos amigos
com os nossos votos de felicidade
por um aniversário,
por um casamento,
por uma formatura.
E só aí então
nos damos conta de que
deixamos para amanhã
a remessa daquele cartão de boas festas,
tão comercial...
e tão pequenino
na sua importância extrínseca,
mas quão valioso
para alimentar lembranças.
E só aí então
nos damos conta de que
ainda estamos esperando
pelas respostas as nossas cartas,
preguiçosamente certos
da obediência
ao formalismo determinante
da reciprocidade.
E só aí então
nos damos conta
de que foi ontem, por que
ao revisarmos
descobrimo
-nos
um pouquinho pueris
e um tantinho piegas
(e foi só por isto!)
que resolvemos não remeter
notícias.
Sobre as nossas filhas.
Sobre os nossos netos.
Sobre a nossa neta.
Sobre as nossas crianças.
Sobre as nossas pequenas atribulações.
Sobre os nossos grandes sonhos.
Sobre as nossas esperanças.
Sobre a nossa imensa
felicidade.
Enfim...
sobre nós mesmos
que somos apenas
o somatório destes
momentos de vida.
E só aí então
nos damos conta
de que foi ontem
e por medo
do julgamento
dos amigos,
que deixamos de ser
autênticos, quando.
o que menos se espera de amigos
é julgamento,
mas sim entendimento,
mas sim compreensão,
mas sim ternura,
mas sim afeto...
E só aí então
nos damos conta
de que foi ontem
que começamos a
nos perder de nós mesmos;
que começamos a deixar
que se nos envolvessem
pequeninas questiúnculas sociais,
que nada pesam,
que nada valem,
que nada representam,
quando está em jogo
a amizade.
Assim sendo vou tentar
decodificar a imagem que,
inadvertidamente,
plantamos em nosso pequeno universo...
Vou tentar buscar uma posição
mais condizente
com a qualidade da nossa estima,
mesmo correndo o risco
de não sermos entendidos
no reposicionamento,
na mudança de embalagem...
Todavia, desde já,
quero esperar que, amigos,
nos saibam perdoar
pela maneira bem pouco formal
com que, doravante,
estaremos a dar sinais de vida.
Não que eu, “o porta voz”,
seja avesso a contatos desta natureza
mas normalmente os tenho evitado
pois quase sempre me desgarro
e, quando me dou conta,
vejo que estou fora
do propósito inicial.
E, pr’a falar a verdade,
mais escrevendo pela
compulsiva
necessidade de escrever
do que mesmo para levar
ou provocar notícias.
E é por conhecer
desta minha tendência,
desta minha marca de egoísmo
e receando que ela possa, aqui e ali,
transparecer
uma pieguice vaidosa e desequilibrada,
que me vou contendo,
que me vou protelando,
que me vou fazendo aparentar
um desinteresse
que estou longe de experimentar e sentir
e, ”porta-voz” que sou,
transferindo para o meu conjunto
esta impressão destorcida.
E isto não se está a dizer para todo mundo,
sob pena de nos aconselharem uma visitinha ao psiquiatra mais próximo
para uma reciclagem
em alto estilo...
Não obstante vou correr o risco,
na esperança de que me saibam entender,
compreender ou quando menos,
amigos que são,
aceitar sem reservas.
Depois...
Ah! Depois.
Há a autocrítica....
E ela não me poupa
de maneira alguma.
Não permitindo,
por vezes,
que os extravasamentos,
ultrapassem os limites
dos nossos arquivos,
onde vou encontrar
um sem número
de manifestações as quais
ela vetou a remessa...
As demais
acabam sempre esmagadas
na cesta de papéis.
Por isto, agora,
decidido a reencontrar,
não me preocupei
com as revisões finais.
Vim vindo pela aí,
para usar de um gauchismo,
deixando que o meu Pentium
alinhavasse os meus pensamentos.
Deixando que eles fluíssem s
em o menor constrangimento...
Vindos lá do inconsciente
e explodindo nas teclas
sem a menor obstaculização.
Alheios a qualquer policiamento do superego...
Deixando que se faça por mim
a comunicação sem retoques,
sem burilamentos
e sem preocupações maiores
do que a de estar escrevendo para amigos,
dizendo-lhes do meu jeito e maneira,
que eles ainda vivem
em nossas recordações.
Vamos tentar reencontrá-los,
atrasados um pouco,
no tempo profano,
mas na hora certa da saudade.
Chegando com aquele jeitinho
de quem vem para esticar
um “papo” sem compromissos...
Tarde fria...
Fogão a lenha...
Sonhos e café.
Chegando
como quem vem porque gosta de vir
e ficando como quem
nem sabe por que veio e ficou.