Crônicas de um maconheiro I - Somos todos anjos aos domingos
E todos os sonhos e as promessas não cumpridas? E todos os planos que foram feitos e re-feitos? E todas as noites perdidas, refletindo, tentando entender, tentando esmiuçar todo e cada detalhe. Todo e cada momento. Sem dormir. Imerso no mar de pensamentos. Profundo. Dentro dum emaranhado de sensações e emoções rasas. Ilusões profundas. Alucinações intensas. Suores frios. Alienações noturnas. Obssessões compulsivas. Impulsivas. Enquanto a vida passava como água correndo entre os dedos. E se perguntava por que dava anto murro em ponta de faca. Por que tinha um "jeito", de bater, que fazia com que o corte não fosse tão profundo e que dobrasse pouco a ponta faca. "Tem que dar um golpe seco". E assim vivia a vida. Dobrando as facas com um murro, aplicando um golpe seco. E os furos na mão nunca cicatrizavam. Decidiu não dormir mais, se drogar, beber, assitir todo dia raiar e a noite escura clarear, de frente de seus olhos castanhos. Se achava jovem. Nunca reclamou disso. Mas sempre reclamava disso. Era o que fazia. Sempre. E nunca. Se achava imaturo. Mas olhava as entradas na testa e a queda de cabelos e se preocupava. Se achava velho. E se preocupava. E refletia. Não fazia a barba. Nem cortava os cachos. "Sou um leão". Parecia. Com uma mistura de sem teto. Um dia iria acordar, como quem acorda de um sonho, e iria viver tudo aquilo que tinha imaginado e fantasiado. Iria cumprir todas as promessas quebradas. E fazer todos os planos re-feitos. Como quem dorme e vive sonhando. Ou acorda e sonha vivendo. "Aos domingos somos todos anjos". E não temos mais compromisso com nosso nome, ou alcunha. Somos todos anjos e voamos alto. Sonhando. Alto. Sonhamos. Uma vida que não tem compromisso. Uma vida que nós escolhemos viver. E nem precisamos refletir. Apenas damos a mãos e seguimos em frente. Sem passado. Nem tempo. Nem relógio. Aos domingos. Somo todos anjos. Aos domingos.