Em prosa

Gostaria de ser poeta.

Transformar em verso o mistério arrependido, em poema as frases espalhadas, em rima o engano da ilusão.

Mas, eu gaguejo, e inspiração nenhuma tem paciência com uma fala mal falada, vive a querer completar as sentenças que balbucio, convertendo em silêncio meu esforço de cigarra.

Como não dispenso palavras, uso a prosa então. E vou dando meu recado.

Acompanho as horas que passam depressa, obrigando que a colheita seja simultânea à semeadura, mas a rosa colhida para enfeitar o altar não deve ornamentar um túmulo. O que se sabe dela, a rosa, é que majestosamente impõe-se pela doçura, deixando espinhos à mostra apenas para proteger seu jardim. Não é tempo de novas semeaduras, o terreno é árido, as raízes profundas, devemos jardinar o que temos.

Guardemos da paisagem o perfume, o toque, o sonho, para que a concha do tempo transforme em pérolas de versos as horas desertas, vividas apenas no coração.

Grace Moraes
Enviado por Grace Moraes em 26/06/2016
Código do texto: T5679420
Classificação de conteúdo: seguro