Lembranças da minha infância
A minha infância foi muito sofrida... Se eu fosse contá-la por completo daria um lindo livro. Mas conto apenas algumas lembranças, pois assim, ressignifico o que foi vivido e para de doer em mim. Esta lembrança é triste, talvez a mais triste da minha vida.
Era 1974, e minha família vinha chegando do estado do Maranhão, onde fomos para escapar da seca de 1970. Lá passamos quatro anos. Mas como tínhamos saudades dos familiares deixados no RN, meu pai resolveu retornar. E viemos apenas com as malas e sem nenhum dinheiro, contando apenas com o ofício do meu pai, que além de agricultor é também mecânico. Mas antes de chegarmos no RN, papai resolveu experimentar morar na paraíba, onde o mesmo tinha uma irmã muito querida.
E Chegamos na Paraíba, na cidade de Uiraúna. Lá descemos as bagagens e ficamos. Logo arrumamos na periferia, um casebre de dois cômodos para morarmos. Os cômodos eram tão pequenos que mal cabia nossa família. Nesse tempo eu estava com dez anos de idade e sofria muito com a nossa pobreza... Na cidade tinha uma usina de algodão, mas lá meu pai não arrumou emprego. Algumas crianças do bairro trabalhavam nessa usina, tirando o resto do algodão que ficava grudado nos sacos quando estes eram despejados na usina. E como eu vi meu pai sem trabalho, porque lá, até mesmo seu ofício de mecânico não deu certo. Todo dia ele saía com suas ferramentas para arrumar máquina de costura, fogão, rádio e outros. Ás vezes encontrava trabalho e a gente tinha o que comer. Outras vezes, voltava de mãos vazias e com a tristeza estampada no rosto. Então passávamos fome dentro daquele miserável casebre.
Vivenciando essa situação, eu mergulhava em profunda tristeza... E Um dia resolvi ir com as crianças do bairro trabalhar limpando os sacos na usina para ganhar algumas moedas. E fui...
Com muito esforço comecei a limpar os sacos, mas eles eram enormes e meus braços eram muito pequenos para desvirar e sacudir aqueles enormes sacos. Mesmo assim, eu estava fazendo e esperava ser aceita. Mas como sou baixinha, com dez anos eu era muito pequena e o fiscal não me aceitou lá. Voltei para casa chorando... Meu esforço não deu certo, só porque eu era pequena.
Vivendo na miséria, eu orava todo dia para Deus nos tirar daquela situação e nos fizesse voltarmos para nosso RN. E voltamos, porém, a miséria não acabou. Vivendo só da agricultura e dos poucos serviços que meu pai fazia como mecânico, era pouco e nossa família passava necessidades em todos os sentidos. Estudávamos com fome e mesmo assim, rendíamos na escola. Acho que era milagre de Deus. Eu e meus irmãos nunca fomos reprovados e ainda nos destacávamos como alunos prodígios. Isso me alegrava e trazia esperança, mas ela demorou tanto, que só conseguimos sair desta miséria quando terminei o ensino médio e em seguida passei em um concurso estadual para professora. Já era 1984, mas tinha chegado ao fim nosso sofrimento. Daí pra frente tudo se fez diferente, eu ajudei meus irmãos e todos eles conseguiram vencer a jornada difícil que a vida reservou para nós.
***
Maria de Fátima Alves de Carvalho – Poetisa da Caatinga
Natal,23.06.2016
Era 1974, e minha família vinha chegando do estado do Maranhão, onde fomos para escapar da seca de 1970. Lá passamos quatro anos. Mas como tínhamos saudades dos familiares deixados no RN, meu pai resolveu retornar. E viemos apenas com as malas e sem nenhum dinheiro, contando apenas com o ofício do meu pai, que além de agricultor é também mecânico. Mas antes de chegarmos no RN, papai resolveu experimentar morar na paraíba, onde o mesmo tinha uma irmã muito querida.
E Chegamos na Paraíba, na cidade de Uiraúna. Lá descemos as bagagens e ficamos. Logo arrumamos na periferia, um casebre de dois cômodos para morarmos. Os cômodos eram tão pequenos que mal cabia nossa família. Nesse tempo eu estava com dez anos de idade e sofria muito com a nossa pobreza... Na cidade tinha uma usina de algodão, mas lá meu pai não arrumou emprego. Algumas crianças do bairro trabalhavam nessa usina, tirando o resto do algodão que ficava grudado nos sacos quando estes eram despejados na usina. E como eu vi meu pai sem trabalho, porque lá, até mesmo seu ofício de mecânico não deu certo. Todo dia ele saía com suas ferramentas para arrumar máquina de costura, fogão, rádio e outros. Ás vezes encontrava trabalho e a gente tinha o que comer. Outras vezes, voltava de mãos vazias e com a tristeza estampada no rosto. Então passávamos fome dentro daquele miserável casebre.
Vivenciando essa situação, eu mergulhava em profunda tristeza... E Um dia resolvi ir com as crianças do bairro trabalhar limpando os sacos na usina para ganhar algumas moedas. E fui...
Com muito esforço comecei a limpar os sacos, mas eles eram enormes e meus braços eram muito pequenos para desvirar e sacudir aqueles enormes sacos. Mesmo assim, eu estava fazendo e esperava ser aceita. Mas como sou baixinha, com dez anos eu era muito pequena e o fiscal não me aceitou lá. Voltei para casa chorando... Meu esforço não deu certo, só porque eu era pequena.
Vivendo na miséria, eu orava todo dia para Deus nos tirar daquela situação e nos fizesse voltarmos para nosso RN. E voltamos, porém, a miséria não acabou. Vivendo só da agricultura e dos poucos serviços que meu pai fazia como mecânico, era pouco e nossa família passava necessidades em todos os sentidos. Estudávamos com fome e mesmo assim, rendíamos na escola. Acho que era milagre de Deus. Eu e meus irmãos nunca fomos reprovados e ainda nos destacávamos como alunos prodígios. Isso me alegrava e trazia esperança, mas ela demorou tanto, que só conseguimos sair desta miséria quando terminei o ensino médio e em seguida passei em um concurso estadual para professora. Já era 1984, mas tinha chegado ao fim nosso sofrimento. Daí pra frente tudo se fez diferente, eu ajudei meus irmãos e todos eles conseguiram vencer a jornada difícil que a vida reservou para nós.
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Maria de Fátima Alves de Carvalho – Poetisa da Caatinga
Natal,23.06.2016