Idade
Quanto estes pés ja caminharam, e o que ja passou por essas mãos em que ela toca a face da idade?
Tem um sorriso que aparenta a ingenuidade de uma criança, mas é mais provável que seja a mais sabia dos presentes.. Agora ela senta no único banco que diz gostar e pela lei da rotina provavelmente já o conhece bem. Espera o ônibus começar a rosnar e olha por seus olhos de vidro a vida passando.. Tudo já é tão igual, mas mesmo assim ela parece anestesiada com a vista.
Beleza já é inalcançável, pelo menos nos padrões que costumava admirar, mas mesmo assim não se priva de caprichos para entorpecer seu senso. Suas duas bolsas, seu guarda chuva rosa, seu cabelo recém cortado e ainda molhado com creme e seu perfume de procedência duvidosa acima de tudo provam isso.
Hoje em dia ela carrega uma mochila invisível lotada de pedras, cada uma representando um ano e a cada ano maiores, antes minerais raros, agora só tijolos e blocos de concreto que mal refletem o sol. Esta mochila arqueia sua coluna e a faz contemplar o chão cada vez mais de perto até o dia em que faça parte dele.
E assim ela encara a idade, e assim ela com suas pernas fracas enfrenta o mundo..