Aquimia do Fogo 5

Que desafio. Ela, o espelho, e a parafernália dançante acontecendo. Fazia tempo que não olhava para si , também! para onde foi aquela menina, ruborizada com o assovio que recebia quando passava por admiradores?E a sede, aquela que tira as entranhas do lugar? Sem falar do juízo que ia lá para o dedão dos pés quando o arrepio subia até o alto da cabeça pelo beijo nos lábios recebidos? Sem contar da beleza do rosto com o sorriso sincero, restou somente nas fotos em raros instantes que passou. Existia ali um rascunho mal feito de uma pseudo Monalisa, cheirando à roseira que murchou pelo desuso.

Começou sentir junto a cena melodramática o sentimento antigo que não a visitava, aquele doce-amargo caloroso que surge quando se ama. Pegou o espelho, levou-o na altura dos olhos, encarou a si. Disse:

___Onde está, menina? Sei que mora aí ainda, se não fosse, não aproximaria de mim esta coisa farta que contigo vivi.... amor por demais. Não deu...tentei vivendo em ti sobrepujando as razões que surgiam nos relacionares, mas venceu o fatídico resultado da convivência, mesmice que revelou o subcutâneo da relação, humanos doentes que não conseguiram ultrapassar as paredes da indiferença, do desprezo, anestesiando peles, sentidos, voltando cada um para o porão de suas subjetividades.

Mesmo assim continuou segurando o espelho frente a face, queria conectar de alguma maneira consigo...Não deu, o tempo molda, modela tudo dentro da formatação que escolhemos, ele faz somente o trabalho que o dono da obra define, como construtor na feitura de um imóvel.

Relembrou a frase do Sr. Perdão, para utilizar da saída do perdoar deveria inseri-la...estava difícil. Se é como o grande pensador disse um dia, ao que tudo indica no alto de sua revolta nos entraves de suas indagações, que a “gente nasce somente uma vez de um jeito”, retaliou:

____Fazer as pazes? perdoar-me? como? Levei tanto e fiz que não encontro meio de resolver um lado e deixar capenga o escuro que aqui dentro coabita, as perdas irreparáveis , lutos intempestivos, e com isto o enfado, não consigo perdoar-me pelo fato de não ter encontrado lógica para tanta confusão. NÃO me convenci ainda dos motivos para ser como os santos, mestres e iluminados que sugerem desde épocas remotas o caminho mais fácil.

Ficou.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 17/06/2016
Reeditado em 08/10/2016
Código do texto: T5670087
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