PRECISO ACREDITAR
Não entendo porque seu olhar cai sobre mim com tanta doçura...
Como explicar porque não ligo TV e porque acredito que vai brotar mina d'água aqui na oca?
O odor que começo a sentir, exala dos cachos de flores da dracena com 12 metros de altura,(ela tem 25 anos).......parecem seus cachos, com véus de noivas e só abrem quando Sol deita, são maravilhosos e perfumosos demais.
Não sinto saudades de nada nem de ninguém-pelo menos hoje- escolho levar meus dias assim pois doem menos e não me perco da criança que ora cochila, ora dorme em mim.
Aqui, no bairro periférico, denominado Vera Cruz, está sendo construído moradias, apartamentos para abrigarem duas mil pessoas( aquele antigo projeto dos governos anteriores); não temos escolas, nem transporte público, mercados, creches, postos de saúde para abrigarem a demanda que daqui há pouquinho virá.....
Cadê a dignidade?
Preciso crer que todos nós nos ajeitaremos por cá, em harmonia e reivindicações, ou seja, com consciência, despertamento...
Preciso acreditar que vou me encontrar um dia.
Kathleen Lessa foi para as estrelas ontem dia 15; Adah do RL, me avisou hj cedo. Fiquei quietinha por um tempo e depois acendi(ascendi) a lamparina interna e agradeci o que fez por mim enquanto conversávamos ao telefone mesmo depois de internada na clínica.
Foi deveras generosa, ensinando-me sobre pronomes, e pedindo que não me afastasse das letras. É fundamental que nos incentivemos uns aos outros para que possamos continuar nas estradas cheias de percalços como a poesia, a escrita enfim, buscando todo dia o reencontro com a verdade ou com a ilusão mas que não cessemos de buscar jamais!
Muitos aqui do RL fazem isso comigo e agradeço-os com minh'alma repleta de amor.
Falta ainda acreditar que do espelho um verbo irá emergir, que sou feita de ilusões e delírios, que dá pra semear entre pedras de desgostos e que as recaídas acontecem, fazem parte da liberdade que almejo tanto.
Preciso enxergar de olhos fechados a beleza e sabedoria da natureza intrínseca; sentir texturas suaves sob pés descalços, os musgos mais humildes da terra-mãe.
Por dentro, cá dentro em mim, tinjo de arco íris o existir, preciso acreditar!
Acaricio a singeleza, ouço o profundo dos desertos, calço barro nos pés e sigo esculpindo as formosuras das formas.
Cicatrizes vão se fechando, necessito dessa cicatrização e são molhadas em soluços, quase gritos...
Ainda não consigo ser inteira!
Apesar de ser feita de TERRA podendo tocar o infinito, entendo o aproximar da HORA.
É demasiado difícil compreender os caminhos mágicos assombrosos e lentos.
Ainda canto.
Um canto forjado, forçado, ainda pequenina, aos 4 anos, no colo de meu pai, herança que carrego nessa jornada, como alforje de ouro.
Sofro avarias, prejuízos todos os dias, pois vivo solta no mar da vida, com o fogo da criação, sôfrego, com coração palpitante e bebo ávida quando encontro paz.
Já fui escrava.
Liberta quando acreditei que a morte era só uma flor de sal.
Quando começo a escrever, não sei parar e o Sol já deitou-se e as flores da dracena perfumam a oca pequetita como asas de silêncios preguiçosos, ecoando meus sentidos.
Preciso tanto acreditar no que sinto e escrevo.......