Flores e espinhos
Libertei as palavras com o cuidado de quem desfolha um botão de rosa. Deixei que o pensamento bailasse solto nos canteiros cerceados dos teus olhos e conseguisse desatar as cercas das tuas aflições. Quase me tornei céu para iluminar o breu dos teus medos e aquecer o sorriso desbotado. Longe dos caminhos cotidianos, pretendi recriar as flores nas tuas intenções... Mas percebi que as palavras também eram traiçoeiras e erguiam novos muros. Anoiteci com os espinhos cravejados nas mãos, como estrelas condenadas a iluminar as trevas. Guardei os rubros estigmas nas dobras de um manto negro, marcado de silêncios e sombras, e amanheci encarcerada na reverberação da solidão.