PSICOFÍSICA DOS CORPÚSCULOS.
Penso, o quanto é difícil iniciar coisas novas. Resistir a gravidade natural do tropeço. Levantar e pró-seguir - sem rumo - adiante. É inegável o fastio. Seguir tanto tempo nestes percursos obliterados de sentido. Não ter sentido… O que é o sentido senão movimento? Sendo assim as leis físicas que regem o movimento são as mesmas que movem-me a pena, transformam traços em palavras, frases; vida. Resumirei então, a duas régias maiores: aquela designada às forças causais, e a inércia. Sabedor disso, todo ato que nos compele vida é então, iniciado por estas, consequentemente. Eis que culmino; por que então permaneceis estáticos? O que é este atrito inerente ao homem, que nos retira o movimento e impregna cada um dos meus atos? Não há desventura que não me suscite dúvidas. Nem caminhada em que não me doam os pés. Subir? Muito íngreme, morro de vertigens… Este peso; o atrito. Seria gravidade?
É nessas linhas, que normalmente, as forças opostas se somam e o atrito me vence. Sempre neste paragrafo - o dito, e fatídico, cujo - aquele que mais pede elucidação; o assunto. De novo, a mecânica nos ensina que um corpo uma vez posto em movimento necessita de mui menos força para que se mantenha em movimento. Mesmo? Jura? Não parece… Continuo; contudo não resolvo o enigma central. Qual o entrave humano?
[…]
É escuso perguntar-me - ignorância - algo que, também eu, compartilho do feitiço. O fato é, só o papel sabe. E já o disse. O atrito que nos impele ao vão - estático - existencial em que nos encontramos corriqueiramente, é na realidade, inexistente. Corrijo; abstrato - para ser mais especifico. Pois em origem, estamos todos alinhados em movimento retilíneo uniforme para com o universo. O que nos impele a parar? Obviamente, sabermos disso… é a causa de todas as dúvidas, e finalmente, de todos nossos bloqueios, entraves, obstáculos; travões. Simples? Nem tanto; ter consciência dá vertigens…
Hernâni Arriscado - Psicofísica dos Corpúsculos.