A COR DA NOITE
"Não tenho medo do escuro /Mas deixe as luzes acesas agora /O que foi escondido é o que se escondeu /E o que foi prometido, ninguém prometeu." (Renato Russo)
A COR DA NOITE
Um único golpe do tempo foi suficiente para transbordar o riacho plácido dos meus olhos, e tornar meus pensamentos mar revolto, selvagem, impetuoso, assustador e cruel...
Ondas homéricas em brasas varreram com sofreguidão o jardim dos sentidos, incinerando sem parcimônia a delicada flor da inocência, recém desabrochada em pétala-pele
Num ímpeto quase instintivo coloco a mão esquerda sobre o coração, enquanto a destra em punho tenta estancar o líquido precioso que impulsionado pelas batidas arritimicas do frágil órgão escorria violento como lava de vulcão em plena erupção
A hemorragia radioativa contamina o ar, e respirar torna-se tão dolorido que a vida empalidece...
A pele arde, queima fundo, fundo... expõe nervos, ossos e o coração em carne viva
Flores de laranjeira ígneas com aspecto sanguinolento são carregadas pela correnteza indômita que escorre pelos degraus dos meus sonhos pueris numa cadência antipoética desumana
A alma intuitivamente vibra em lúgubres tons de cinza, no sentido contrário do relógio, desnudando a cor da noite
Indiferente... absolutamente indiferente a dor acelera vertiginosamente o relógio, até que os ponteiros do tempo sangrem
A lua pálida, desordenada passa a orbitar outros astros antagonicamente obscuros
Raios, trovões e soluços entrecortados tornam a noite assustadora...
Sobre os lábios trêmulos, sem nenhum gosto ou cor deita-se os teus em desalinho e, numa mistura de agonia e doçura tenta sem êxito algum estancar o sangue, abafar os gritos inaudíveis que ensurdecem seu insensível coração.
(Edna Frigato)
Declaro, para os devidos fins, que a "A cor da Noite" é somente e tão somente devaneio do meu "eu" lírico e, não uma página arrancada do meu diário secreto. rs