Frio
O frio que faz lá fora me atinge aqui dentro, não digo meu ser externo, mas sim meu ser interno. Quando faz frio minha alma também se recolhe, se sente enferma, busca algo que lhe aqueça, talvez um pouco de arte ou algo que me faça sentir vivo. Preciso que joguem uma coberta em meu ser, que me deixem na cama e me sirvam um pouco de sopa. Fico em repouso e nesse instante a mente se desprende, vago por paisagens que nunca antes estive, me vejo acampando na Itália, me aquecendo nas praias do Rio de Janeiro, me deslumbrando com as pirâmides do Egito, faço longas viagens sem sair do meu quarto. Questiono também coisas que me fazem ser o que sou, a morte, em momentos de dias nublados e frios constantes, se mostra mais forte, essa mesma morte que sempre carrego na mente também começa fazer parte das paisagens que gosto de me perder quando estou refletindo. Refletir em dias frios me faz ter um contato mais humano com as coisas, a alma se expande até tocar as folhas das árvores, abraça os troncos dos pinheiros, voa com os pássaros e mergulha nos riachos que naquele instante não estão frios. Porém agora me encontro enfermo, a alma se sente fraca e não existe um remédio que lhe de energia para me fazer sair da cama e sorrir para as pessoas, mesmo que não exista vontade de sorrir. Por isso escrevo, escrevo em momentos de angústias, escrevo em momentos de solidão e escrevo em momentos de frio, a enfermidade da alma sempre é uma consequência dessas coisas, não evito, me lanço e me deixo, por um instante, me sentir por inteiro.