TOXICÔMANOS (O PIOR LUGAR DO SALÃO)

Outorga o pensador boêmio que se inicie o maleficio.

Auscultando à passos prontos a disritmia cotidiana.

Cardiologista renomado, sofredor do coração.

Este que vos fala; protela, reclama a dúvida comum:

“Para onde vão os carros, os trens, o descaso - o tempo?

As roupas de gala recém alugadas, se vão, o salão esvazia, e tu ficas…

Quem? A vida… empoeirada, obsoleta; de vitrine.

Esgueiro-me por entre a languidez melíflua do breaco pagão,

E meus trajes de samaritano cortês, o bobo bem pago, refletidos no copo. Por quê?

- A Vida choca! Tragam-me outra, gelada como esta, mas outra…

Sinto o cheiro deste Mundo Novo; a nova poluição… Os motores supertecnológicos alimentados do suor tóxico, que se funde a chuva ácida de nosso cinza sagrado. Novos atores com os mesmos papeis, se dirigindo ao RH preparados para alçar novos vôos (sem asas) do 25º andar à cama merecida; o asfalto. Novas mortes, novas doenças, e o mesmo câncer de vida… Quem diria.

[…]

Um bêbado tropeça, o mais próximo que chegou da realidade. Desconfio dessa gente que sorri com bons olhos à minha bebedeira. Não ri, mas ri de quem ri, são os olhos que bebem para afogar a malícia convicta.

Algo que o bêbado tem de sobra, sua antidignidade, que lhe permite se aprumar rapidamente e caçar sorrisos dos gordos risonhos, empaturrados de engôdos e propinas… Um grande circo!

Eu, o tolo que confunde guardanapos com prosa, sentencio-me ao mesmos pensamentos ébrios que qualquer outro alcoólatra possa ter (E que glória!). O mesmos fiapos de vida, travestidos e com outros costumes; a mesma coisa. Entre eu e o mendigo que ali espera o show da vida começar (alucinação), há apenas um terno caro, covardia, e algum dinheiro. A vida continua sem ninguém, aqui ou ali, para assistir… Que tédio.

As crianças, agora, podem comprar doces caros; eu mesmo, me embriago de açucares fermentados na hipocrisia - comercial - alheia. E há quem ainda acredite no glamour daqueles tubos de ensaio com criolina que se fuma com caras e bocas. Estas crianças do estado fálico… quero engolir tudo o que não tenho… Já agora deveriam fumar direto da boca do industrial, seja lá o que possa ser equivalente ao coito consentido que eles empurram, e que diverte a Gomorra cristã… Que preguiça.

- As pessoas passam sem ter para onde ir! (Finalmente, os olhos turvos escrevem algo que preste) - definição da Ansiedade.

A gula de quem já comeu com a barriga, com a boca, com os olhos, com os outros - lascívia. Pudera eu condena-los, não há o que se comer nestas redondezas… Antropofagia da fome. Então fala, grita, reclama, zurra e azucrina! Assim disfarças o barulho do trânsito e o silêncio da morte. Mas me faz um favor, faz ali ao lado. Tem melhor ângulo, e propicia melhor estardalhaço (glamuroso); preciso terminar a birita. Ainda tenho outros milhares de dias para matar, e tu atrapalhas-me a visão… da parede. Que ironia…

Hernâni Arriscado - Toxicômanos (O Pior Lugar do Salão).

21/11/14

Hernán I de Ariscadian
Enviado por Hernán I de Ariscadian em 06/06/2016
Reeditado em 26/09/2016
Código do texto: T5658616
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