Sonata da Morte...
Sou o pai, o filho e o espírito do santo. Amém.
Sou aquele que não foi.
Sou uma sombra do que poderia ter sido.
Sou virtude, fracasso, tentativa e erro.
Sou o bordão, velho, cansado e usado do artista.
Sou a melancolia, a euforia e a razão.
Sou o descaso com a vida.
Sou o implicante, o carrapato, o incerto e o veneno que trucida o infeliz suicida.
Sou o nascer do sol para o cego.
Sou a sinfonia que o surdo não escuta.
Sou a antítese da luz e aquilo que a sombra não alcança.
Sou a paz do defunto e o medo do vivo.
Sou aquilo que te espera em algum momento,
Na próxima esquina,
No dobrar da vida.
Sou o frio na espinha,
O arrepio,
A voz que te clama na solidão da noite.
Sou a morte, a sorte e o acaso.
Sou o trago do bêbado,
O luto da viúva
E a palma do obstetra em um pequeno corpo inerte.
Sou lascivo,
Ardil,
Sorridente
E sedutor.
Tenho mil faces e todas elas encantam
Não chego sempre de repente,
Às vezes aviso mil vezes e alerto meus escolhidos.
Todos são os meus escolhidos.
Sou o trago lento do fumante e desenho as formas na coluna de fumaça.
Somente uma vez fui ludibriado.
Teve um que voltou três dias depois.
Se a moda pega, perco o meu emprego...
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