Terei nada
Quando nasci, nenhum anjo me falou nada. Brotei num parto e senti meu primeiro pesadelo. Sonhei ser poeta, mas que poeta sou? Sou o herdeiro dos poemas de meus mestres, sou o fonema entristecido pelo que aconteceu. Mesmo sem reconhecimento, sentado esmo, sou poeta, já basta ! A pulsão de meus versos desaguam em desafeto, as vezes em acalantos noutras prantos, mas resvalam-se em mim. Mesmo sendo um poeta patético, terei voz por entre a minha casa, se caso não tenha casa permitirei-me aos estudos científicos, ainda terei corpo. Caso o corpo me for tirado, ainda terei voz que encherá os meus filhos com os discursos que encheram a mim, se caso não tenha voz, terei o espectro rondando na tez do universo, mas se a luz retirar-me até isso, não terei nada, e este nada já me basta.