À DERIVA DAS PALAVRAS

O poema nascido do cordão umbilical amoroso (pleno de dengos e jogos) é geralmente um exemplar nervoso, denso; avulta em intimismo e, às vezes, de rara beleza estética. Antecipa um solerte condão: transfigurar-se a matéria da vida por inquietudes assentadas no temor da perda, originando a insegurança. Todavia, pela magia do poema lírico-amoroso reencontra-se aquilo que num outro momento restara irremediavelmente perdido... Tanto que a comoção nele contida surrupia o sono, frutifica a insônia, aperta a garganta e produz a lágrima. Há maior densidade humana do que o conteúdo deste grito de socorro? E em que pedra dos domínios do corpo se poderá recolher e guardar o que fica à deriva das palavras, dos símbolos?

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2015/16.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5656005