(In)consciente

Novamente encarava-me com seus detestáveis olhos irônicos e sorriso presunçoso. Incapaz de disfarçar o cinismo em sua voz, perguntou por onde andavam meus largos sorrisos, doces e contagiantes.

Seu olhar mudou para falsa compaixão e seguiu questionando se eles foram levados pela mesma pessoa que os trouxera. Em seu cruciante sorriso podia-se ler "Eu avisei".

Poderia ela ser mais dura que a torpe realidade? Espizinhava-me exibindo minhas desventuras em seu show de horrores. Exaltava minhas falhas, fazendo-me crer que eram ainda maiores.

Armada de minha bipolaridade, aguçava minhas lástimas destacando minha recorrente solidão.

E mais uma vez eu tinha um punhal em mãos. Não poderia ceifar o passado ou as cáusticas lembranças, muito menos a Consciência que seguia com sua ladainha. Devia fazer o que aprendera: apunhalar o próprio peito para esvaziar meu corpo daquela vida malograda.

Meu corpo permaneceu inerte no chão por um tempo incalculável até poder levantar-se, enfim vazio, guardando suas cicatrizes, armando e protegendo-se melhor. Aprendendo a cada golpe disferido.

Gabriela Gomes Bastos
Enviado por Gabriela Gomes Bastos em 28/05/2016
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