Espiral do ódio

Enquanto

Houver fome

A espiral do ódio

Infundirá no homem

Um corte trágico

No seu coração.

A nudez ultrajante

Da guerra

Fará da terra

Um pântano de feras

Nefasto habitat

De vidas tão desiguais

Suíte de sonhos depostos

Rostos de abjeção

Decrepitude, miséria e solidão

Serão best-sellers

Do século XXI.

Nenhum homem ou mulher

Sobreviverá em paz

Ambos, substantivos sem vidas

Caminharão contrários à razão

Sepultados num vale de dúvidas

Sob a autópsia do medo

Seus funerais marcharão

Sobre becos escuros, impuros

Íngremes muros, duros caminhos

Sendas infelizes, veredas de ilusão

Ninhos taciturnos serão seus divãs.

Enquanto houver fome na Terra

Viveremos entre feras

A guerra será antimíssil da paz

Interceptando os sonhos dos homens

Mas a vida não cessa, não cala

Sonhar é a peça, a pedra, o portal

O verbo intransitivo e sensor

Dos sonhos substantivos da esperança

Do homem que planta e canta

Um hábito, um gesto, um pedido de amor

Indeferindo o trânsito da fome.

Enquanto existir excluídos

Fome, sofrimento e miséria

Serão manchetes de capas

Em todas as praças deste país

Enquanto houver fome

O povo jamais será feliz

Enquanto os homens

Não tiverem vergonha na cara

A fome não para, não sara

Sua cura cara sempre será

E a dor do trabalhador não cala

Segue pungente, mesmo sem fala

Pois a fome só mancha e faz indecente

O cidadão operário e regente

Das manhãs desta nação.

Autor: Edmilson Silva

Palmares-PE

Maio, 25 de 2016.

EdSilva
Enviado por EdSilva em 26/05/2016
Reeditado em 03/12/2021
Código do texto: T5647135
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