Choro

A dor não era minha, mas tomei-a de empréstimo, senti-a florescer no âmago do meu ser e chorei.

Chorei como chora o vento quando erra pelas planícies verdejantes, uivando na madrugada fria, varrendo os resquícios da noite sem luar.

Chorei como choram as nuvens cinzentas, desmanchando-se em gotas pesadas, desabando do céu em torrentes, soluçando trovões e lamentando-se no clarão de um relâmpago.

Chorei como choram as folhas no outono, que se desprendem de suas árvores e largam-se na vastidão do mundo para perder-se eternamente.

Chorei como chora a própria dor, com as lágrimas vertendo do coração, emanando o calor da alma e imprimindo vida ao pranto.

Chorei, então a dor tornou-se minha.

Gabriela Gomes Bastos
Enviado por Gabriela Gomes Bastos em 20/05/2016
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